quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A MULTIPLICAÇÃO DO MINISTÉRIO
Marcos 3.7-20

INTRODUÇÃO

Como você lida com as situações da vida, quando as coisas não vão muito bem? Pensa, seriamente, em desistir, desaparecer, querer nunca haver existido? Que área de sua vida tem sido difícil de suportar? O que você gostaria de deixar de fazer porque não sente mais ânimo para realizar aquilo?
Como você encara o ministério para o qual Deus o tem chamado? Sente paixão e força para ministrar às pessoas que estão ao seu redor? Você tem alegria e busca com intensidade, servir o evangelho de Jesus àqueles que o cercam no dia-a-dia? E quanto aos seus irmãos em Cristo, você demonstra interesse em ajudá-los?

Às vezes, situações externas nos desanimam a dar seqüência às nossas responsabilidades da vida. E, também, nos desanimam de continuar o nosso ministério no reino de Deus. Pressões, críticas, falta de alguém que nos motive, muitas vezes, tiram a nossa perspectiva e embaçam a nossa visão para perceber o que Deus quer de nós, enquanto estamos nesta vida. Perdemos de vista a nossa missão maior, de glorificar a Deus e cumprir isso por meio de um ministério devotado a Ele e ao próximo. Mais uma vez, Jesus é o nosso modelo e Aquele que nos ajudará a lidar com as dificuldades que ameaçam o serviço a Deus. É em Marcos 3.7-20 que encontramos o alento necessário para não desistir de nosso chamado para seguirmos a Cristo.

O MINISTÉRIO QUE SE EXPANDE EM MEIO ÀS DIFICULDADES – vv. 7-12

Em Marcos 3.1-6 vemos o ambiente pesado em que terminou a conversa de Jesus com os fariseus. A autoridade do ensino de Jesus que era independente de tradições, levou esses homens a o odiarem cada vez mais e iniciarem um plano sobre como o matariam. Jesus não entra em depressão, não foge de suas responsabilidades, nem fica chorando amargamente o porquê tem sido tão injustiçado pelos líderes religiosos. É verdade que segue um roteiro mais cauteloso, agora, indo para o mar, não mais no centro das atenções dentro de uma sinagoga. Porém, não deixa de ministrar e servir, atendendo àquelas pessoas que o cercavam.

Já havia discípulos, pessoas que o seguiam, como Marcos vem deixando claro ao longo do Evangelho. Mas, também, diferencia esse grupo de aprendizes do restante da multidão que vinha da Galiléia. A fama de Jesus cresceu e, não apenas pessoas da Galiléia, mas de várias regiões da Palestina corriam até ele.

Com uma grande multidão reunida, muito grande mesmo, Jesus pede aos seus discípulos a preparação de um barco, para que ele tivesse maior mobilidade e não o esmagassem. A sede das pessoas era tão grande pelo poder de Jesus que se jogavam, buscando tocar nele e serem curados aqueles que estavam doentes. As pessoas estavam aflitas, completamente conscientes da necessidade que possuíam de Cristo. Provavelmente, não entendessem a natureza de seu ministério, mas viam e criam no seu poder para curar e na sua autoridade sobre demônios. Os demônios sabiam muito bem quem Ele era, mas não criam nele. Jesus, a fim de evitar um mau entendimento da parte do povo sobre quem Ele era, ordenava aos demônios que se calassem. Essa ordem de Jesus poderia ter dois motivos: ou iriam interpretá-lo como um grande líder político, ou relacioná-lo com os próprios demônios.

O princípio desta história é que Jesus não desistiu de seu ministério e serviço ao Senhor. Apesar da oposição, da crítica, das censuras, Ele continuou ministrando e servindo ainda mais as pessoas. Jesus era orientado pela agenda do Pai, não pela agenda dos homens. Sua motivação e força se encontravam em Deus, que o comissionou para a Sua tarefa.

Muitas vezes, iremos lidar com situações que nos pressionarão a desistir de servir ao Senhor e ser útil para Ele:

Crítica de colegas na faculdade ou trabalho que você vem compartilhando de Jesus;

Pessoas que nos perseguem porque não concordamos com a maneira errada como manejam determinadas situações ou porque não participamos daquilo que todo mundo faz;

A oposição em casa contra a sua vida com Deus e compromisso com a igreja local;

Críticas dentro da própria igreja. Pessoas que fazem questão de criticar seu trabalho na igreja e ressaltar defeitos.

Nós precisamos buscar a motivação no Senhor. Tome passos práticos nessa direção:

Ore, colocando aquela situação diante do Senhor e pedindo a Ele que o ajude a não limitar sua visão às pessoas, mas ao que Ele deseja de você.

Avalie as críticas. Veja se há algo que você pode crescer, mesmo elas sendo negativas.
Ore pela pessoa que se opõe ou o critica. Peça a Deus que o transforme e o ensine a enxergar as situações com os olhos de Deus.

Avalie se você tem sido alguém que motiva outras pessoas a servirem a Deus ou uma pessoa que, com muita facilidade, faz críticas desnecessárias e de forma errada.

O MINISTÉRIO QUE MULTIPLICA SEGUIDORES – vv. 13-15

Jesus, além de dar continuidade e expandir seu serviço a Deus, também, multiplica seguidores. Pessoas que fossem reproduzir o seu ministério, seguindo os passos do Mestre e abençoando vidas com o reino de Deus.

O versículo 13 nos informa que Jesus subira a um monte e trouxe consigo alguns de seus discípulos que, nesta altura do ministério, já era um grupo de tamanho considerável. O livro de Lucas acrescenta que Jesus passara a noite anterior, inteira, orando (Lc 6.12). Depois disso, chamou seus discípulos, pessoas que ele mesmo quis escolher e foram para junto dele no monte. Essa menção de "aqueles que ele quis", ressalta a soberania de Jesus no chamado daqueles que serão seus discípulos. Quem dá o primeiro passo é Ele, os discípulos respondem o seguindo. A multidão era imensa, mas o grupo de discípulos era limitado. Muitas pessoas iam a Jesus, para resolverem seus problemas, mas poucas, verdadeiramente, o seguiam. Ir atrás de Jesus em busca de solução de problemas, não implica, necessariamente, em ser um seguidor seu.

Desse grupo mais fechado de discípulos, Ele seleciona um grupo ainda menor. Escolhe doze, com o propósito primário de estar com Ele, para, então, servir as pessoas. Jesus requer primeiro a comunhão com Ele, antes de executarmos tarefas para Ele. É necessário passar momentos com o Mestre, para, depois, pregar e executar o ministério que ele nos designou.

O ministério apostólico dos Doze consistiria, basicamente, da reprodução do ministério de Jesus. Anunciar as boas novas, expulsar demônios e curar doentes. A expulsão de demônios e curas comprovaria a autoridade da mensagem apostólica. Assim, Jesus multiplica ministros, e multiplica seu ministério, compartilhando com aqueles homens a autoridade do Pai e a responsabilidade de pregar o reino de Deus.

A primeira aplicação desse texto é que devemos ser gratos a Deus por ter nos escolhido para sermos seus discípulos. Como Jesus disse em João 15.16: "Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis frutos ...". Precisamos ser gratos a Deus pelo dom maravilhoso da eleição que começa em Deus e se cumpre com uma resposta nas nossas vidas de obedecermos a Jesus como o nosso Senhor. Nosso destino era uma vida afastada de Cristo aqui e na eternidade, sofrendo a miséria da nossa corrupção e afastamento de Deus.

O segundo princípio é que antes de fazermos e agirmos, precisamos estar com Jesus. É necessário cultivarmos uma comunhão profunda e constante com o Senhor, a fim de experimentarmos um relacionamento de profunda lealdade e, então, servirmos a ele com a verdadeira motivação. Nosso chamado maior é adorarmos ao nosso Deus e todas as nossas demais ações são conseqüências da nossa adoração.

Nós, como igreja de Jesus, repetimos o seu modelo de discipulado quando investimos na vida de pessoas para que elas saiam da multidão preocupada com suas próprias necessidades e passem a andar com Jesus de perto e estar com Ele. Sempre lembremos de que Jesus quer das pessoas uma devoção a Ele maior do que a si mesmas.

O MINISTÉRIO QUE ULTRAPASSA AS DIFERENÇAS – vv. 16-19

Por fim, quando vemos a lista de discípulos que Jesus chamou a si, encontramos homens totalmente diferentes, com "jeitões" diferentes, histórias e filosofias de vida opostas. Encontramos Pedro, Tiago, João e André, homens simples, pescadores. Tiago e João, provavelmente, com um modo estourado de lidar com as situações da vida, como sugere o nome que receberam de Jesus (cf. Lc 9.54). Também, encontramos Bartolomeu, provavelmente um outro modo de chamar a Natanael (Jo 1.44-51), homem piedoso que estudava com devoção as Escrituras. No meio deles está Mateus, publicano, alguém que era partidário de Roma e Simão, um zelote, que fazia parte de um partido terrorista da época, cujo propósito era libertar a nação judaica do poderio romano por meio de armas.

Poderíamos falar aqui de cada um, conforme as narrativas contam, mas o mais importante é que Jesus reuniu junto de si pessoas distintas, com visões de mundo completamente diferentes, mas que foram escolhidos por Ele para serem os iniciadores da Sua comunidade de homens e mulheres redimidos, a igreja. Jesus une junto de si pessoas com histórias de vida deferentes, a fim de que convivam como um só povo, um só rebanho, debaixo do único pastor, Cristo.

Nossas diferenças nunca serão motivo para seguirmos caminhos diferentes, para seguirmos Jesus do nosso jeito. Não! Nossas diferenças fazem parte da obra maravilhosa de Cristo de inculcar o mesmo modo de pensar naqueles que, até então, eram estranhos. Nossas diferenças devem nos fazer crescer rumo Àquele que é o ser humano perfeito, Cristo. É no meio da diversidade que aprendemos a abrir mão de olharmos para o próprio umbigo e passamos a nos importar com o nosso irmão, ao lado.

Além disso, o texto nos lembra que até na comunidade dos seguidores íntimos de Jesus, existem aqueles que apenas fazem número, mas não são realmente parte dele. Sempre no meio do trigo, haverá o joio. Disfarçado, escondido, busca se passar por ovelha de Jesus, mas na verdade não é. "Judas" não precisa ser necessariamente alguém que passa pouco tempo na vida de uma igreja. Pode ser alguém que há anos pratica sua religiosidade, mas o coração está distante de Cristo. Alguém cuja ganância valoriza mais 30 moedas de prata do que Aquele que deu a sua própria vida por amor a nós.

CONCLUSÃO

No meio de tantas opções de ministério: "igreja com propósito", "evangelismo com fogo", "a igreja que você sempre quis", etc, preferimos ficar com o modelo de Jesus, não porque é mais um dentre muitos, mas porque é o modelo de ministério segundo o coração de Deus. É um modelo infalível, seguro, que podemos seguir com total confiança e desenvolvê-lo em meio às adversidades da vida.

Como discípulos de Jesus, que ultrapassemos as diferenças e multipliquemos seguidores de Cristo, não pelo nosso próprio poder, mas pela autoridade daquele que nos confiou essa tarefa (Mt 28.18-20). Que nossa adoração resulte em serviço dedicado ao Senhor!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

DEUS CONOSCO
Marcos 1.9-13

INTRODUÇÃO

Possivelmente, eles já tenham batido na porta de sua casa. Falando a respeito do reino de Deus e dos 144.000 que entrarão neste reino. De quem estou falando? Dos testemunhas de Jeová.

Lembro-me quando ia de ônibus para o colégio, em Atibaia, e tinha o hábito de levar aquela pequenina Bíblia dos Gideões para ir lendo no caminho. Certa vez, uma senhora me abordou e começou a questionar a minha fé e o que estava escrito na minha Bíblia. Descobri que ela era testemunha de Jeová e tivemos algumas discussões, desde então. Cito os testemunhas de Jeová, porque a doutrina que caracteriza a sua heresia se relaciona com a Pessoa de Cristo. Eles não crêem que Jesus possui a mesma natureza que Deus Pai. Para eles Jesus é um deus, mas não o Deus. Jesus é a maior e a primeira criatura, mas não co-existe eternamente com Deus.

No século IV, essa heresia quase se tornou a teologia oficial da Igreja. Mas, pela graciosa e soberana intervenção divina, isso não chegou a acontecer, ainda que por um bom tempo fez parte da fé popular. A crença de que Jesus era tão divino quanto o Pai, foi, definitivamente, aceito como teologia oficial no Concílio de Constantinopla, em 381 A.D.. Gregório de Nissa, um bispo que fora muito importante para essa decisão, escreveu que em Constantinopla, nessa época, quando você andava pela rua e pedia um trocado, alguém iria filosofar sobre se o Filho de Deus era gerado ou não-gerado. Se perguntasse o preço do pão, responderiam: "O Pai é maior e o Filho é inferior". Se perguntasse se o banho estava pronto, falavam: "O Filho foi criado do nada".

Isso mostra para nós como essa discussão era popular na época, e como a maioria do povo entendia Jesus nos moldes daquilo que é ensinado pelos TJs, hoje. Daí, então, a importância de olharmos para as Escrituras e, a partir delas, compreender corretamente a Pessoa de Jesus. Cremos que Jesus era e é plenamente Deus e plenamente homem. E o texto de hoje, mostrará esses dois lados do mistério de nossa fé. Onde o Deus infinito se identifica conosco, meros pecadores.

Quando começamos a estudar o Evangelho de Marcos, encontramos João Batista na tarefa de preparação do coração do povo para receber o Salvador. Agora o tão esperado "Mais Poderoso do que eu" (1.7) aparece. De maneira diferente, talvez, como o público esperava.

A AUTENTICAÇÃO DO MINISTÉRIO DE JESUS – vv. 9-11

Marcos pinta um quadro de simplicidade no verso 9. O retrato da grandeza do que estava por vir é substituído por um outro que parece ser o contrário. Primeiramente, O Filho de Deus é identificado apenas como Jesus. Havia vários "Jesuses" na época, fazendo com que esse indivíduo não transmitisse nada de singular, a princípio. Além disso, o local de onde vem, Nazaré, é completamente desconhecido. Nenhuma fonte judaica sequer menciona tal local, nem o Antigo Testamento, nem Flávio Josefo (grande historiador judeu) e nem o Talmude (livro que contém a tradição oral judaica).

Além de tudo isso, esse Jesus é batizado por João. De início, tal sujeito poderia ser qualquer pessoa, menos quem João anunciava. Pois aquele que viria é que batizaria, não o contrário. A palavra "logo" é uma palavra bem peculiar a Marcos e queria chamar a atenção de seus leitores para o que sucederia.

Então, o tal Jesus sai da água, os céus se rasgam (note a intensidade da descrição do evangelista) e o Espírito desce semelhante a uma pomba sobre ele. Certamente, o Espírito tem a ver com o Espírito Santo referido no verso 8. A presença do Espírito de Deus marcaria a vida daquele que seria o Servo do Senhor em Isaías 42.1 e o Salvador prometido em Isaías 61.1.

Uma voz que provém dos céus é ouvida. No Antigo Testamento, "céus" é uma referência à morada de Deus e o local de onde Ele parte para julgar e salvar (1 Rs 8.30; Sl 18.9, 16-19; 144.5-8; Is 64.1). Ou seja, o próprio Deus passa a falar. E quando Deus declara a identidade de Jesus, fica claro que não era mais um homem comum, mas o próprio Filho de Deus e o Servo do Senhor, que seria o mediador da Nova aliança dada por Deus. A razão para se pensar assim é que as duas orações declaradas por Deus indicam alusões a textos do Antigo Testamento. "Tu és o meu Filho" é uma frase que se encontra no Salmo 2.7, um Salmo Messiânico que anunciava o reino futuro do rei de Israel que estenderia seu governo sobre todas as nações da Terra. Então, a princípio, Jesus pode ser identificado como o Salvador esperado pela nação judaica. Mas, além disso, o termo "Filho de Deus" é desenvolvido de tal forma no evangelho que indica, também, o fato de que Jesus é semelhante ao Pai em natureza e em poder.

A segunda oração "em ti me comprazo" alude a Isaías 42.1, passagem que fala a respeito do Servo do Senhor, que traria justiça e curaria a cegueira espiritual dos homens. A descrição da presença o Espírito Santo sobre Jesus confirma que este texto estava tanto na mente de Deus quanto na de Marcos. Pois, sobre o Servo do Senhor, Deus coloca o Seu Espírito (cf. Is 42.1).

O princípio deste texto de Marcos, portanto, é que o poderoso Filho de Deus, maior que João, veio de forma humilde, se identificando com os homens e seu pecado. O Senhor Jesus não necessitava do batismo de João, pois não tinha pecado algum. Mas deixou-se batizar por ele, a fim de que se identificasse com os homens pecadores e assumisse assim, o lugar deles na cruz.

Esta identificação de Cristo conosco, em nossa humanidade, era bem entendido pelos teólogos dos cinco primeiros séculos como divinização. Cristo se tornou participante de nossa humanidade, a fim de que pudéssemos ser participantes de sua divindade (cf. 1 Pe 1.4, 5). Ou seja, só podemos participar da santidade e amor de Deus porque Cristo reverteu o processo de queda dos homens. Ele se fez pecado por nós, a fim de que pudéssemos ser feitos justiça de Deus (2 Co 5.20-21). Nos revestimos do novo homem que se refaz conforme a imagem daquEle que nos criou (Cl 3.10). Essa é a "maravilhosa troca"! Esse texto é por demais relevante para nós e podemos aplicá-lo de diversas formas:

Sermos gratos ao Senhor Jesus pelo Seu imenso amor em se humilhar em se identificar com nossa pecaminosidade, para que pudéssemos ter um relacionamento com Deus.

Desenvolvermos uma atitude de humildade no tratamento com o nosso semelhante. Se o próprio Filho de Deus se humilhou a tal ponto, quem sou eu para me vangloriar.

Seja uma pessoa que exige menos e serve mais (no trabalho, Faculdade, casa, relacionamento com a sociedade).

Reconheça a graça de Deus quando receber algum elogio (1 Co 15.10).

Aprenda a perceber as virtudes e acertos de outros irmãos (Fp 2.1-4).

Seja humilde em receber as críticas e confrontações de um irmão e avaliá-las com calma à luz da Palavra de Deus.

Compartilhe com os perdidos as boas notícias de que Deus entrou na história e se identificou com sua fraqueza, a fim de salvá-los e conduzí-los a um relacionamento real com Deus e livre do poder do pecado.

A IDENTIFICAÇÃO DE JESUS CONOSCO NA TENTAÇÃO – 12-13

Após receber o reconhecimento do Pai de que era aquEle que viria para restaurar a espiritualidade dos homens, Jesus vai para um deserto completamente solitário. Sua ida para lá foi motivada pelo Espírito de Deus que o acompanhará durante todo o ministério, mesmo que não seja mais mencionado diretamente por Marcos. Algo importante há de acontecer aqui, pois o famoso "logo" de Marcos reaparece. Há um encontro no texto. Não mais com o Pai, mas com Seu inimigo, Satanás.

Esse encontro dura 40 dias e nele é tentado por Satanás. O autor não nos conta o resultado da batalha. Talvez, isso confirme a autoria de Marcos como posterior a Mateus e Lucas, pois como já havia dois relatos deste evento falando da vitória de Jesus, não havia a necessidade de garantir tal fato a seus leitores. Para Marcos, Jesus já havia vencido o valente (3.27) e seu ministério era o saque de pessoas que estavam sob o antigo domínio.

Se Marcos não se preocupa em detalhar o processo, ele pinta o fundo do quadro que acompanhou o processo de tentação. A menção aos animais selvagens, não é mero detalhe artístico. Certamente, possuía uma verdade teológica por trás. Isaías fala sobre o reino futuro de Deus na terra como sendo um momento em que haverá a restauração da harmonia entre a natureza, também. Em que um bebê poderá brincar com uma serpente (Is 11.6-9). O texto de Gênesis 3 deixa claro que a queda provocou um conflito entre o homem e a natureza (Gn 3.17-18), a qual deveria ser administrada por Adão e seus filhos (cf. Gn 1.26-27). Paulo fala de um futuro em que seremos salvos do poder e efeito do pecado e a natureza desfrutará de libertação do sofrimento (Rm 8.18-23).

Jesus está revertendo o processo do erro de Adão. Enquanto Adão vivia em harmonia com os animais até ser tentado, pecar e perder o domínio perfeito que possuía, Jesus também é tentado, mas, diferentemente de Adão, não sucumbe às propostas de Satanás e introduz a harmonia do homem com a criação que será completamente restaurada no futuro.

O livro de Hebreus aplica a tentação de Jesus ao fato de que isto nos garante uma aproximação de Deus, a fim de recebermos sua misericórdia e graça para não pecarmos. Quando fala de fraqueza, o autor de Hebreus se refere às tentações como questões com as quais precisamos lidar por sermos homens que vivem após a queda. Mas o Senhor Jesus, também, foi tentado e se compadece de nós quando travamos lutas e provê o escape nos garantindo graça e misericórdia de Deus para vencermos as tentações (Hb 4.14-16). Não estamos sozinhos nisto, mas podemos contar com a presença e auxílio do Salvador.

Podemos viver a verdade de Marcos 1.12-13 da seguinte forma:

Contar com o auxílio do Espírito Santo diante de nossas tentações, assim como Jesus contou. Se O deixarmos guiar nossas vidas em situações de prova, certamente, obteremos vitória sobre o pecado, assim como o nosso Salvador (Rm 8.1-13; Gl 5.16-18, 24-25).

Não encarar a tentação como pecado em si, mas uma oportunidade de crescer em minha vida de santidade e me tornar um crente maduro, optando por obedecer a Deus no lugar de ceder ao meu desejo carnal (Tg 1.2-4, 13-15; cf Jo 17.15-17).

Não dê desculpa para o seu pecado quando cair. É claro que existe perdão, mas, não existe tentação acima daquilo que você pode enfrentar e Deus sempre nos concede o que é necessário para vencermos a tentação (1 Co 10.13; 2 Pe 1.4).

Fortaleça-se na Palavra de Deus como recurso dado por Ele para que você vença à tentação (Jo 17.15-17). Além disso, busque a ajuda de Deus em oração, como Hebreus 4 ensina.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A JORNADA ENTRE A ORAÇÃO HUMILDE
E A OBEDIÊNCIA VACILANTE
Marcos 1.40-45

INTRODUÇÃO
Em uma reportagem da revista Ultimato de 1994, Kenneth Hagin, pastor promotor da teologia da prosperidade diz o seguinte:

"Nós como cristãos, não precisamos sofrer reveses financeiros; não precisamos ser cativos da pobreza ou da enfermidade. Deus proverá a cura e a prosperidade para seus filhos se eles obedecerem aos seus mandamentos ... Deus quer que seus filhos tenham o melhor de tudo ... Um pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade porque andava num carro muito velho. Repliquei: ‘isso não é humildade, isso é ser ignorante!’ ... Não havia cadillac naquela época, mas Jesus andou num jumento, e este era o melhor meio de transporte da época. Deus disse que éramos para reinar em vida como reis. Quem jamais imaginaria um rei vivendo em pobreza? A idéia de pobreza simplesmente não combina com reis".

Ao ler as Escrituras percebo que o ignorante (com todo o respeito) é o Pr. Hagin, que desconhece trechos da Bíblia tais quais: "Disse Jesus: ‘O meu Reino não é deste mundo. Se o fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui’" (Jo 18.36) e "Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14.17).

Motivados pela teologia da glória, os apóstolos, bispos, missionários, entre outros, ensinam sua congregações a exigirem de Deus o carro novo, o namorado, uma vida conjugal fácil, saúde próspera, etc. Usam na linguagem da oração o "determinar" e como o texto acima mostra, Deus certamente nos dará tudo o que pedimos e nos fará prósperos.

Uma observação simples do Evangelho mostrará que as coisas não são bem assim. Se nem o Filho fora poupado do cálice da Cruz quando orou (Mc 14.35, 36), quanto mais nós que somos menores que o nosso Senhor (Mc 10.43-45).

Quando chego em Marcos 1.40-45 sou desafiado pelo modelo de oração que ali encontro. Um leproso miserável que possui uma teologia bem melhor que a dos super-heróis modernos e no ensina a orar "segundo a vontade de Deus" (cf. 1 Jo 5.14, 15). É para esse texto que chamo a sua atenção e o convido a refletir. Três princípios se destacam nele.

ORE HUMILDEMENTE – v. 40

O texto anterior (Mc 1.35-39), termina com a informação acerca da viagem missionária de Jesus por toda a Galiléia, pregando as boas novas do reino de Deus nas sinagogas e expulsando demônios. Durante essa missão evangelística, Jesus entra em mais um povoado, porém, algo diferente ocorre. No meio da multidão, surge um homem leproso que, ajoelhado, expõe seu pedido a Jesus. Ao estudarmos o contexto bíblico, percebemos que tal situação é surpreendente por algumas razões.

Primeiro, porque os leprosos eram considerados imundos para os judeus e não poderiam viver dentro das cidades. Ao ser informado de sua doença, o leproso deveria gritar: "Imundo! Imundo!" e construir sua casa afastada das demais pessoas de sua comunidade (Lv 13.45,46). Um comentarista diz que geralmente moravam perto dos lixões, onde encontrariam comida para a sua sobrevivência.

É interessante observar vários relatos bíblicos em que a lepra se relacionava ao pecado da pessoa, o que, conseqüentemente, produziu um preconceito na cultura judaica de que toda lepra tinha como causa o pecado. Miriã foi atingida por lepra como castigo de Deus ao se rebelar contra a liderança de Moisés sobre a nação de Israel (Nm 12.1ss). O servo do profeta Eliseu ficou com lepra depois de mentir para alcançar seu propósito ganancioso de possuir bem materiais (2 Rs 5). O mesmo se pode dizer do rei Uzias que ao tentar quebrar as leis cerimoniais da adoração, acabou leproso (2 Cr 26.16ss). Logo, era comum na mentalidade popular alguém leproso ser considerado como estando debaixo da ira e castigo de Deus.

O judaísmo criou suas próprias tradições, indo além do que a Torah havia indicado. Os rabinos diziam que a distância mínima para uma pessoa se aproximar de um leproso era 1,30 metro, em dia que não ventasse muito. Dependendo da situação, a distância mínima chegava a 46 metros! Conta-se de um rabino que ao ver um leproso, se escondia dele e de outro que jogou pedras, dizendo: "Vá para o seu lugar e não manche as pessoas!".

Diante disso, fica clara a enorme confiança e a fé corajosa que este homem demonstrou ao entrar no povoado e se aproximar de Jesus, rogando que fosse curado. Era necessário ter muita certeza, antes de um tomar uma decisão dessas, mas o fez porque sabia que Jesus podia curá-lo (contraste com 9.22). Ele não tem dúvidas quanto ao poder de Jesus, mas quanto ao propósito de Deus em realizar tal cura. Não duvidava da disposição de Jesus em ajudá-lo, mas se fazer tal milagre se encaixaria dentro do ministério proposto pelo Pai.

Rejeitado pela sociedade, rotulado como pecador e desprezado por si mesmo, ele não se vê no direito de dar ordens ao Senhor do universo, mas compreende a Soberania de Jesus no cumprimento de Sua missão. Enquanto Pedro desesperado diz: "Senhor, todos te procuram!" (v. 37), o leproso apenas roga: "Se quiseres, podes purificar-me!".

O princípio maior deste versículo é a Oração Humilde. O leproso tinha plena consciência de sua pequenez e de como isso implicava na sua aproximação de Jesus. "Deus vai além do esperado quando ficamos aquém do exigido", dizia um professor meu ao explicar este texto. Precisamos seguir o modelo do leproso quando nos aproximamos de Deus em nossas petições. Não importa o quão desesperadora seja a nossa situação, o quão difícil seja enfrentar determinados desafios, precisamos colocar nossa vontade debaixo da vontade de Deus. Expor nossa súplica, mas não esquecer de quem é o Senhor (14.35, 36).

Pedir a Deus por um namorado (a) e marido (esposa), mas deixar que Ele no tempo dEle conceda ou não a petição. Pedir a Deus por um emprego melhor ou uma oportunidade melhor de trabalho, mas ser grato por aquilo que Ele já tem dado. Pedir a Deus que transforme a vida do meu filho ou meu cônjuge, mas deixar ao encargo dEle, entendendo que por meio de uma dificuldade de relacionamento, Deus quer trabalhar no meu caráter.

Uma grande mentira tem-se propagado com este comércio religioso. Como algum pastor em sã consciência é capaz de conduzir um programa chamado "Pare de Sofrer!"? Quem sou eu para determinar o fim do sofrimento de alguém? É por meio do sofrimento que Deus forja o nosso caráter e Ele tem propósitos que nós entenderemos somente mais adiante na vida ou apenas na eternidade (Rm 8.28, 29).

Não cabe a nós dizer o que Deus deve fazer, e sim, apenas a súplica humilde de alguém que está diante do Pai amoroso que sabe aquilo que é melhor para os seus filhos (Mt 7.9-12). Muitas vezes, queremos a comida dos porcos, enquanto Deus tem um banquete para nós. O banquete da presença dEle e a alegria plena da comunhão de um filho que conhece seu Pai mais intensamente.

AJA COMPASSIVAMENTE – vv. 41-42

Ao ver aquele homem envolvido em tamanha miséria, Jesus se comove. O texto descreve Jesus tomado por compaixão. As boas notícias da salvação alcançaram o leproso que lançara toda sua esperança em quem, de fato, poderia curá-lo (Is 61.1-2). Se as forças dominantes da religiosidade judaica desprezavam um homem como este, Jesus segue o caminho totalmente diferente e se identifica com a dor física e espiritual experimentada pelo marginalizado.
A compaixão de Jesus não se transforma em mero discurso, mas em ação. Estende a sua mão e toca o leproso. Tal gesto faria de qualquer judeu impuro até o final da tarde. Mas aqui o processo é revertido, não é Jesus que se contamina com a lepra do homem, mas o homem é purificado pelo toque poderoso de Jesus. "Quero, seja purificado!". Aquele que pode, quis, e, imediatamente, a lepra deixou o homem, tornando-o puro novamente.

Como discípulos de Cristo seguimos o modelo do Mestre para com os que carecem de ajuda. Nossa sociedade se habituou à indiferença diante da miséria ou sofrimento do próximo. Basta ligar a televisão e acessar a internet para perceber como a mídia explora a infelicidade alheia, a fim de alcançar uma maior audiência e, assim, atingir lucros maiores. Nos acostumamos a ver a mulher grávida recebendo tiros de um bandido, pessoas agonizando no sistema público de saúde, a filha que mata os pais, o acidente de carro em que morrem pessoas. Nos tornamos gradualmente indiferentes ao problema do próximo. Isso é seguir o modelo religioso dos dias de Jesus, no lugar de viver como comunidade do Salvador Compassivo.

É necessário chorar com os que choram. E, além de chorar, agir com as mãos estendidas aos necessitados. Precisamos proclamar a salvação espiritual do homem, a qual se encontra apenas em Jesus. A paz com o próximo que nossa sociedade tanto carece só será alcançada se, primeiramente, obtiver a paz com Deus em Cristo (Ef 2.11ss). Devemos dizer isso às pessoas como discípulos que se compadecem da miséria humana debaixo do pecado.

Podemos fazer grande diferença em nossa sociedade se agirmos mais em prol de uma sociedade mais justa. Sermos íntegros nas nossas relações de trabalho, agasalharmos a criança do farol, oferecermos ao andarilho oportunidade para reabilitação do álcool, dispormos de tempo com crianças de uma comunidade carente. "Enquanto houver apenas um ser humano existindo em condições precárias, não se pode admitir que haja alguém dotado de plena dignidade ... pois como uma pessoa humana pode ser sentir digna, se seu irmão não está vivendo com o mesmo conforto?" (José Carlos Iglesias).

Precisamos lembrar que o Senhor Jesus não está preocupado apenas com um homem, mas em restaurar a comunidade humana dos eleitos ao seu ideal inicial. Não se deve olhar para si mesmo como se a obra de Jesus estivesse realizada, é necessário seguir os passos do Mestre na direção do próximo.

OBEDEÇA FIELMENTE – vv. 43-45

Após a cura, Jesus dá uma advertência ao homem. A palavra grega indica uma advertência enfática, não necessariamente, severa. O pedido de Jesus não consiste em algo novo no Evangelho de Marcos. Até aqui, o silêncio fora exigido apenas dos demônios (1.24-25, 34), a partir deste texto, encontramos várias advertências de Jesus às pessoas que foram objeto de seu amor compassivo e sua cura. Marcos 7.36 diz algo interessante: "Jesus ordenou-lhes que não o contassem a ninguém. Contudo, quanto mais ele os proibia, mais eles falavam".

A ordem de silêncio da parte de Jesus tinha forte relação com a idéia errônea que os judeus teriam a respeito dEle, vendo-o como o libertador político das mãos de Roma e não como o Salvador Sofredor que dá a Sua vida para nos restaurar à comunhão com Deus.

O ex-leproso deveria apenas seguir as exigências da Lei, a fim de que pudesse ser reintegrado à sociedade. O aval do sacerdote, considerando-o puro, seria o testemunho de que precisava para voltar à vida normal na comunidade.

Sem dar atenção à ordem de Jesus, o ex-leproso cumpriu a parte necessária para ser integrado à sociedade, mas logo que isso ocorreu, saiu contando a todos a respeito de sua cura. Assim, atrapalhou os planos de Jesus em visitar "os povoados vizinhos, para que também lá eu pregue. Foi para isso que eu vim. Então ele percorreu toda a Galiléia, pregando nas sinagogas e expulsando demônios" (vv.38-39). Pois, Jesus já não conseguia entrar de modo aberto nas cidades, sendo levado a permanecer em lugares desertos.

Porém, a desobediência do leproso não frustrou a Obra de Deus em Cristo, porque "assim mesmo vinha a ele gente de todas as partes" (v. 45).

A princípio, meu entendimento inicial do texto era de que a atitude do leproso não poderia ser considerada como uma desobediência muito séria. Com a observação cuidadosa e a ajuda de outros comentaristas, percebi que a atitude dele impediu Jesus de cumprir seu foco inicial que era pregar nos povoados, nas sinagogas. Além disso, essa ênfase de Marcos no silêncio e como a propagação descuidada das pessoas foi um obstáculo no ministério de Jesus, era por demais pertinente para seu público inicial de cristãos romanos que enfrentavam a oposição da população, bem como do império e deveriam ter bastante cuidado ao compartilharem das boas novas sem "jogar pérolas aos porcos". Compartilhar o evangelho de modo cuidadoso e que contribuísse de maneira mais eficaz para a expansão do Reino.

Mesmo assim, o texto nos lembra que a desobediência humana não frustra os propósitos de Deus, ainda que Ele se auto-limite em sua atuação quando há de nossa parte pecados e falta de consideração para com Sua Palavra.

É necessário refletir o quanto nossas vidas servem a propagação do reino ou a atrapalham. Precisamos pensar o quanto nossos pecados são um empecilho para o desenvolvimento e crescimento sadio da comunidade local na qual comungamos.

A nossa indisposição de ouvirmos e obedecermos a Palavra de Cristo afetará a atuação de Deus por meio de nossas vidas. Por outro lado, nossa consagração constante e diária expressa obediência à Cristo e deixa espaço para atuação livre e intensa do Senhor por meio de nós.

ESQUECENDO-SE DE DEUS
ISAÍAS 1.1-4



Visão de Isaías, filho de Amós, que profetizou sobre Judá e Jerusalém nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá.
Ouçam, ó céus! Atente, ó Terra!
Porque o Senhor diz:
Filhos, criei. (Filhos) fiz crescer.
Mas eles se revoltaram contra mim.
O boi conhece o dono dele. O asno (conhece) o proprietário do seu celeiro
Israel nada sabe. Meu povo não se mostra com conhecimento.
Ai! Nação pecaminosa! Povo pesado de pecado!
Descendência que age maldosamente! Filhos que promovem a perversão!
Deixaram o Senhor! Menosprezaram grandemente o Santo de Israel
Afastaram-se para trás


INTRODUÇÃO

Estava, eu, numa segunda à noite assistindo um filme que passava no SBT, cujo título era "Tenha Fé". Esse filme conta a história de dois jovens amigos que se apaixonam pela mesma moça. Um dos jovens é padre e o outro é rabino. A moça se apaixona pelo rabino e começam a namorar. Esse relacionamento de namoro do rabino era secreto e na verdade, ele não queria que perdurasse. No entanto, a moça se apaixona profundamente por ele e lhe diz que gostaria que a relação dos dois fosse encarada com uma maior seriedade. O rabino que de modo nenhum queria um aprofundamento no relacionamento, diz para ela "Não" e explica que ela prejudicaria a sua espiritualidade.

Quando ouço uma frase como essa, onde o outro é colocado como fator determinante de nossa espiritualidade, penso no evangelho moderno. Num tempo atrás, fui visitar uma moça que passava por problemas com a anorexia. Ela é crente no Senhor Jesus, e até pouco tempo, pensava que seu estado não era fruto de suas próprias decisões, mas sim, culpa de seus pais que brigam e da igreja que é repressora porque possui um padrão de conduta rígido.

Paulo Romeiro, pastor pentecostal muito respeitado, em uma entrevista para a revista Eclésia, fala de uma corrente nos EUA, chamada evangelho da Auto-Estima, onde não se pode falar nada negativo à pessoa, nem confronta-la pelos seus erros e pecados.

Tal evangelho, tem se refletido no nosso contexto tupiniquim. Esse é o evangelho freudiano, onde o crente é basicamente bom e não tem muita responsabilidade por seus atos e pecados.

Nesse contexto, a mensagem profética e evangélica do livro de Isaías se faz necessária para nós, crentes no Senhor Jesus. Isaías chama pecado de pecado e nos orienta onde está a origem dele, que é o nosso próprio coração.


CONTEXTO HISTÓRICO

Fico impressionado ao ver a situação na qual Isaías traz sua palavra profética, porque é dentro de um contexto onde a nação de Israel, muito provavelmente, passava por um período de restauração espiritual. O ambiente no reinado de Ezequias era muito propício para um retorno aos ideais da vida descrita na lei. Nesse período, a nação passava por uma reforma, onde o locais de adoração aos deuses de Canaã, a região que cercava Israel, haviam sido removidos e agora,o povo se voltava para a adoração apenas ao Deus de Israel.

Todavia, mesmo nessa situação onde tudo cooperava para uma vida de fidelidade a Deus, o coração do homem, continuava corrupto. Por mais que a adoração ritual e pomposa no templo ocorresse, a adoração verdadeira e espiritual da qual Jesus fala em João 4.32, não era tão freqüente, o que indica uma vida distante de Deus que o povo vivia em seu dia-a-dia. Isaías mostra a maldade do povo, não aberta no seu ambiente, mas escondida no coração. Foi aí, que o povo começou a esquecer-se de Deus e o próprio rei Ezequias que havia comandado a reforma da nação, passou a buscar sua segurança nacional nas mãos dos egípcios. Deus, então, traz juízo sobre Ezequias e a nação que haviam se esquecido de dEle. A Assíria ataca contra Judá e destrói todas as suas cidades, restando somente Jerusalém. Isaías profetiza contra a nação por sua infidelidade a Deus que se refletia no dia-a-dia e no tratamento uns com os outros.

O ambiente era facilitador, mas o coração continuava corrupto, como bem dizia o profeta Jeremias.

A INSUBMISSÃO – V. 2

Isaías inicia sua profecia convocando céus e terra para atentarem àquilo que Deus iria dizer. Esse tipo de convocação, tem sua origem em Deuteronômio 32, quando Moisés chama os céus e a terra para serem testemunharem dos feitos de Deus em favor do Seu povo, enquanto este responde com rebeldia e O rejeita, trazendo o justo juízo de Deus. No livro dos Salmos, esse chamado tem a mesma função de anunciar um juízo de Deus sobre os orgulhosos que rejeitam a Deus (76.8). A situação com o Israel da época, portanto, não era muito diferente. Deus havia cuidado de Seu povo, mas este o rejeitou e o deixou de lado, provocando assim a justa ira de Deus sobre eles.

Outro detalhe interessante do texto, é perceber que o motivo pelo qual os povos e seres celestiais deveriam dar atenção ao oráculo era porque Deus quem estava falando. Ele é o Soberano digno da atenção de todo o Universo e é dever dos homens prestar honra a Ele.
Deus havia criado seus filhos como a mãe que dá à luz e sustenta a criança e possibilita o crescimento desta. Os verbos deste texto sugerem para nós uma mãe que cumpre seu papel dando as condições necessárias para que seu filho cresça tanto em termos físico quanto responsavelmente em termos intelectuais e sociais.

O texto continua, nos dizendo que ao invés desses filhos serem gratos e prestarem obediência à mãe que deles cuidou, eles se rebelaram contra a mãe. Decidiram viver suas vidas independentemente de Deus. A palavra usada no texto para descrever a rebeldia do povo de Israel traz consigo a idéia de alguém que se torna insubmisso à autoridade que está sobre ele. Era usada na época de Isaías para descrever reinos dominados por uma outra nação que se rebelavam e buscavam sua independência nacional. No livro de Provérbios, o rebelde é aquele que depois de ser ofendido por seu próximo se opõe a ele de tal forma que é impossível ter diálogo com ele. Os salmos falam que tal comportamento pertence aos ímpios e pecadores e, nunca, deveria ser realidade de alguém que faz parte do povo de Deus.

Essa era a situação espiritual do povo de Deus. Independente de Deus, se opondo a Ele, tomando pra si atitudes que são próprias daqueles que não conhecem a Deus.

É a filho pródigo que menospreza a pessoa de seu pai que dele cuidou a vida toda e quer viver sua vida independente.

Várias vezes em nossas vidas assumimos atitudes de rebeldia contra Deus:
· Tomamos atitudes e realizamos planos sem sequer colocar nas mãos de Deus, em oração.

· Há áreas nas nossas vidas em que vivemos, sem permitir que Deus seja o soberano:
i. Adquirimos softwares ilegais e nem sequer pesa a consciência pelo fato de estarmos roubando o dinheiro do programador;

ii. Não queremos aceitar, muitas vezes, a Soberania de Deus sobre a nossa vida quando nos faz passar por crises e dificuldades que vão contribuir para o nosso crescimento. Queremos a solução e o livramento logo.

iii. Quando permitimos que o rancor e a inveja nos mova contra um irmão, não é somente a ele que nos opomos, mas ao próprio Deus que quer unidade na sua igreja.

A Insensibilidade – V. 3


O profeta Isaías continua falando a respeito da espiritualidade do povo de Deus. Usa o mundo animal como ilustração para mostrar a insensibilidade espiritual da nação. Dois animais são usados, uma única atitude eles demonstram. O boi conhece o seu dono assim como o asno. Esse conhecimento implica em submissão àquele que o possui, ao seu proprietário. O boi se submete ao dono, porque é adestrado para isso. Ele adquiriu a percepção de quem é que dirigi e governa sua vida. Isso é uma verdade certa. "Todo o boi conhece seu dono", afirma Isaías, todavia, Israel era incapaz de perceber quem era o seu. Duas verdades são reais nesse texto. A primeira, é que tão certo como o boi conhece o seu dono, tão certo Israel não pode de compreender quem é Seu Deus. A outra, é que até um animal é capaz de perceber seu dono, enquanto Israel é totalmente incapaz disso.

Fui olhar com mais cuidado para a expressão usada por Isaías ao se referir que o povo de Deus não se mostrava com conhecimento. Descobri em Isaías 44.18 que uma pessoa sem conhecimento é como se ela tivesse a pele que circula em torno dos seus olhos grudada e fosse incapaz de ver. Uma pessoa sem conhecimento é colocada em Isaías 6.9-10 como alguém que se torna insensível à voz profética e, portanto, incapaz de se converter. Isaías 56.11 traz a ganância como a raiz de um coração insensível a voz de Deus. Quando nossas vidas giram em torno de nossos desejos e paixões, somos incapazes de ouvir a Deus e perceber que Ele é o nosso possuidor.

Lembro-me da situação de um rapaz que freqüentou nossa igreja por um tempo e após ter passado por um período de discipulado e ter demonstrado crescimento cristão, começou a deixar de buscar a Deus e de dar atenção à Sua voz. Começou a namorar uma menina que não conhecia ao Senhor Jesus. Sentei com ele e comecei a lhe mostrar na Bíblia que seu procedimento não era certo porque envolvia uma comunhão profunda ou chegaria nesse ponto com alguém que não fazia parte do povo de Deus (2 Co 6.14 - 7.1). Ele escutou, entendeu e até disse que sabia que seu comportamento estava errado segundo a Bíblia, mas que não queria mudar de atitude. A conseqüência da independência que esse jovem havia assumido com relação a Deus, o levou a uma insensibilidade à Sua Voz na Bíblia.

Será que você se encaixaria dentro desta mesma realidade com o povo de Israel?

· Quando você se debruça diante da Palavra de Deus você ouve à sua voz, ou simplesmente, cumpre um dever religioso?

· Quando você ouve as pregações de domingo à noite, ou aos estudos que são promovidos nas atividades da igreja, elas geram mudança em sua vida, ou são palavras que apenas lhe fazem se sentir bem?
· Qual é atitude que você tem demonstrado quando um irmão lhe ajuda a enxergar um erro em sua vida? Você aceita a exortação ou acha que ele não tem nada a ver com sua vida?



A IMPIEDADE – V. 4


Por último, Isaías lança uma condenação clara e direta. Como Deus os enxergava.

Ela era uma nação destruidora, esse é o significado da palavra pecaminosa na maioria das vezes que aparece. Não era necessariamente uma destruição física, mas sim, moral, que por conseqüência gerava sua própria destruição física. Isso fica atestado quando Isaías os chama de "filhos que promovem a perversão". Aquele que perverte é aquele que pratica um mal maior do que o que foi cometido anteriormente. Perverter é praticar um grande mal. Eles não só praticavam uma maldade muito grande, como também, promoviam essa pecaminosidade enorme entre si mesmos.

Talvez, se Isaías vivesse nos tempos modernos, diria que o pecado do povo de Israel era tão grande quanto a população da China ou tão alta quanto o monte Everest. Mas essa vida tão suja e imoral era conseqüência não do ambiente em que o povo vivia, mas sim de uma decisão deliberada de abandono e desprezo de Deus. O que eles fizeram com Deus foi o mesmo que um marido faz quando abandona e deixa sua esposa. Eles tomaram outro rumo, um rumo contrário à presença de Deus.

CONCLUSÃO

Essa história teve seu final feliz. Muito provavelmente, foi esta profecia de Isaías que gerou quebrantamento no coração do rei Ezequias e o levou a recolocar sua confiança em Deus, não em homens. Só então, a nação pôde ver o livramento de Deus quando tudo parecia acabado.

Gostaria de perceber, rapidamente, quatro fatores que o próprio profeta Isaías nos fornece como antídotos para a independência de Deus e para a insensibilidade espiritual:

Foi pelos rebeldes como eu e você por quem Cristo morreu e por isso Deus remove nossa culpa– Isaías 53.12;

Há perdão de pecados quando há reconhecimento de que pecamos - Isaías 6.5-7

Deus é a fonte de sensibilidade espiritual. Portanto peça a Ele um coração sensível à Sua voz - Isaías 40.14

Um espírito perdoado por Deus se expressa em mudança de atitude – Is 27.9

A presença do Espírito Santo em nossas vidas nos capacita a um viver em submissão a Deus – Isaías 44.3-5

Gostaria de ler o trecho de uma obra cristã chamada Epístola a Diogneto. Ela relata a vida transformada que o Espírito Santo gerava na vida dos cristãos, a vida que quer gerar em seu povo:

Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes... ...vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros.Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida.

NA BUSCA DO VERDADEIRO AMOR
1 Coríntios 13.1-3

INTRODUÇÃO

Você já parou para observar o quanto tem se falado em amor, hoje em dia, e como fica cada vez mais difícil definir o que é o amor? Há poucos anos atrás, eu conversava com um rapaz no ônibus, enquanto viajava para a igreja na qual trabalhava quando era seminarista. Na busca por compartilhar com ele do evangelho, comecei uma conversa. No meio dela, ele passou a me dizer que o amor é relativo e o importante é cada um encontrar seu verdadeiro amor. Se fosse necessário, no caso de alguém casado, trair a esposa porque encontrou o verdadeiro amor, não haveria problema algum, pois, o que vale é encontrar o seu amor, mesmo que implique em quebrar os votos e compromissos do casamento.

Outras situações, também, tristes e/ou curiosas são:

O amor virou sinônimo de tempero de comida, há pouco tempo atrás fazer comida com amor era fazer comida com Sazon.

Amor virou sinônimo para relação sexual com uma pessoa, independentemente se você tem um relacionamento profundo com ela. Fazer amor é igual a relacionar-se sexualmente.

Amor é algo incontrolável, "que mexe com a minha cabeça e me deixa assim". Amor deixou de ser uma decisão, para ser um sentimento que me domina.

Amor não é algo tão importante, pois eu posso até "deixar o meu amor por ela".

Diante dessas propostas do que o amor significa, precisamos nos voltar para a Bíblia e encontrar nela a definição do próprio Deus para o verdadeiro amor.

DEFININDO O AMOR BIBLICAMENTE

Algumas verdades que definem o amor, biblicamente, são:

Amar é buscar sempre o benefício do outro (Rm 13.10), até mesmo daqueles que são nossos inimigos (Rm 5.7-10).

Amar, muitas vezes, nos levará a dar de nós mesmos e abrir mão de direitos pelo bem do outro (Ef 5.2).

O amor verdadeiro se alegra e anda junto com a verdade. Não é concordar ou esconder o erro de outros (Ef 4.15; 1 Co 13.6).

A FALTA DE AMOR NA IGREJA DE CORINTO

O nosso texto de hoje, se encontra em 1 Coríntios 13.1-3. É preciso lembrar, antes de nos voltarmos a ele, que a igreja de Corinto tinha uma enorme dificuldade para entender e viver o amor bíblico. A carta mostra diversos problemas de relacionamento promovidos pela falta de amor naquela comunidade, tais como:

Alguns se tinham por sábios dentro da igreja e consideravam-se superiores aos demais (1 Co 6.15-20; 8.1-3);

Havia uma falta de preocupação em comportamentos que feriam a consciência dos outros (1 Co 10.23-33);

A falta de amor era refletida na festa do agápe, em que era celebrada a ceia do Senhor. Fazia-se uma refeição em comunidade e os pobres passavam fome, ao passo que os ricos comiam e não repartiam sua comida com os necessitados (1 Co 11.17-22);

Disputas de grupos que se achavam mais espirituais que outros e, também com respeito aos dons espirituais. A pessoas estavam preocupadas em mostrar seus dons, sem o interesse em edificar a igreja (1 Co 1.10-17; 3.1-5; 12.12-31). Nesse contexto aparece o famoso texto do amor.
Dentro desse contexto da igreja em Corinto que precisamos entender 1 Coríntios 13.1-3, onde a miopia da comunidade cristã em compreender o amor de Deus por nós, levou-os a agirem com falta de amor uns com os outros. Paulo, então, busca corrigir essa condição da igreja no capítulo 13.

PODER E CONHECIMENTO SEM AMOR SÃO VAZIOS – vv. 1-2

Línguas
O contexto próximo indica que Paulo estava falando sobre o dom de línguas. Quando fala sobre "língua dos anjos", se refere, talvez, a alguns coríntios que alegavam falar a língua dos anjos, possivelmente, de maneira extática. E ao tratar sobre a língua dos homens, faz referência à linguagem comum, aos idiomas (cf. At 2). O dom de línguas era um dom, aparentemente, muito apreciado pelos coríntios. O apóstolo, então, diz que mesmo se eu possuir tal dom, seja em qualquer esfera (linguagem da terra ou dos céus) ou até do "mais alto nível", sem uma vida de amor "serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine".O sino e o prato ou címbalo, eram instrumentos tocados pelos adoradores dos deuses Dionísio (deus do vinho) e Cibele (deusa da natureza). Eram usados para invocar a deidade, afastar os demônios ou acordar os adoradores. Nas ruas de Corinto, esses instrumentos ecoavam por toda a parte. Mas eles emitiam apenas sons barulhentos, estridentes e monótonos, sem produzir nada mais que isso. Faziam somente barulho, não se obtinha melodia ou música qualquer deles.

A intenção de Paulo é mostrar que o uso do dom de línguas sem acompanhar uma vida motivada pelo amor, nada produz. Pode causar a admiração, respeito e louvor dos homens, mas não produz a música que Deus deseja. Para Deus de nada serve, pois tira a glória de Deus do centro e coloca a própria glória humana.

Profecia e Conhecimento
A profecia estava ligada à edificação, encorajamento e consolo (1 Co 14.3). Quando fala de "mistérios", Paulo indica a revelação de Deus em Cristo, a qual o homem é incapaz de saber por si mesmo, a não ser mediante a intervenção sobrenatural de Deus (1 Co 2.7-11 c/ 1.24-31). Ao tratar sobre "conhecimento", indica um conhecimento dado por Deus e que o homem pode adquirir (1 Co 8.1-6; 12.8). A "fé" pode estar ligada à capacidade de realizar milagres (Mc 11.22-23).

Mais uma vez, o ponto do texto é que mesmo alguém sendo capaz de pronunciar palavras de edificação à igreja, conhecer exaustivamente os mistérios de Deus e possuir uma fé poderosa, pode ser alguém muito importante aos olhos humanos, mas aos olhos de Deus não é nada. Os dons são meios pelos quais expressamos nosso amor a Deus e ao próximo, mas não podem tornar-se fins em si mesmos.

Posso exercer meus dons e talentos na vida da igreja sem amor da seguinte forma:

Tocar no louvor ou cantar, esperando o reconhecimento dos outros, em lugar de encarar isto como oportunidade de servir os outros e ajudá-los na sua adoração ao Senhor.

Coordenar um evento na igreja, mas com raiva e ira com os outros porque não fazem direito ou não participam.

Buscar conhecimento bíblico para mostrar que sou mais espiritual que os outros. Ou contar experiências para mostrar o quanto sou superior na minha espiritualidade em relação às pessoas.
Posso usar meu conhecimento bíblico de modo a ferir profundamente meu próximo.

CARIDADE E SACRIFÍCIO SEM AMOR SÃO INÚTEIS – v. 3
Caridade
O texto fala, primeiramente, de alguém que doa todos os seus bens e propriedades a um grande número de pessoas (palavra grega para "repartir"), a ponto de não lhe restar mais nada. Ainda que faça isso, se não for motivado pelo amor a Deus e ao próximo, de nada lhe valerá.

Martírio
Mesmo a entrega do próprio corpo para ser morto por altos ideais sem a submissão ao amor de Deus, em nada será útil. Há uma possível referência a um indiano que havia se queimado em uma fogueira funerária na cidade de Atenas e cuja sepultura era bem conhecida. De nada adiantou ao sujeito ser morto por ideais elevados que não eram o verdadeiro. Mais adiante, também, alguns cristãos dos séculos II e III, buscavam o martírio para receber a glória dos irmãos.

Podemos ser caridosos, buscando receber algo de Deus em troca, uma bênção ou receber o louvor dos homens (carona; dar um bom dízimo; ajudar uma família da igreja que precisa de ajuda; limpar a igreja).

Ou ajudamos alguém movidos apenas pela força da obrigação, no lugar de sermos motivados pelo bem do próximo.

Podemos nos sacrificar em busca de algo em troca: "Poxa, fiz isso por você e você nem pra me retribuir". "Nossa! O irmão só deu um obrigado pelo que eu fiz".

CONCLUSÃO

O livro de Romanos nos diz que Deus nos capacita a amar como Ele requer de nós mediante a atuação do Espírito Santo (Rm 5.5). Podemos e devemos amar, viver uma vida que expressa interesse e preocupação pelos outros. Amar significa agir para o bem daqueles que nos cercam, seja por meio de dons e talentos, ou abrindo mão de direitos e ajudando os que precisam. Mas o motor de tudo isso deve ser o AMOR.

Conta-se a história da família de um dono de armazém que todas as manhãs se reunia e o pai orava fervorosamente em favor dos pobres da comunidade. Ele orava muito, mas jamais deu qualquer coisa para ajudar os mais carentes. Certa manhã, quando encerrava mais uma reunião de oração doméstica, após interceder intensamente pelos necessitados, seu pequeno filho disse: "Pai, eu desejaria muito ser dono do seu armazém." "Por que, meu filho?", perguntou o pai. "Porque assim poderia responder, eu mesmo, as suas orações."

Um professor meu do seminário dizia: "Pare de pedir a Deus que o ajude a amar as pessoas, e comece amá-las".
O Homem como Adorador

Uma vez que o ser humano fora criado por Deus e destinado para Sua adoração, surge uma questão que precisa de uma resposta adequada: "O que faz do homem um adorador?". Carlos Osvaldo Pinto ajuda a entender Deus biblicamente como "aquele ou aquilo de quem ou que o homem depende para sua subsistência, segurança e significado" . Diante disso, pode-se chegar à seguinte afirmação: Adoração envolve a dependência existente entre o adorador e o objeto de sua adoração, em que este é a fonte de suprimento daquilo que o adorador necessita, e por isso o adorador responde, colocando-se dentro da esfera de vida proposta por aquele que é adorado, entendendo que somente dentro de tal esfera encontrará a única e verdadeira subsistência, segurança e significado.

Tal resposta dada por aquele que é dependente se constitui como adoração. Isto revela a fragilidade, dependência do homem e o seu anseio por aquele em quem encontra o suprimento de suas necessidades.

1. A fragilidade e a insignificância humana

Emil Brunner, diz acertadamente que em primeiro lugar a palavra bíblica para criação significa que:

"Há um abismo intransponível entre o criador e a criatura, em que um estará sempre oposto ao outro em uma relação que jamais poderá ser alterada. Não existe senso maior de distância do que o que há entre as palavras criador-criatura. E essa é a primeira coisa que pode ser dita sobre o ser humano, e é fundamental: ele é criatura".

Dentro da perspectiva teológica do livro de Salmos, a referida afirmação está correta. Isto é visto quando o salmista identifica a fonte de sua existência em Deus, que tem total controle sobre sua vida terrena, dando-a ou tirando-a e determinando o tempo de sua existência (Sl 90.3; 104.29,30; 139.13-16). O homem é tão insignificante que é incapaz de deter a ação de Deus ou fazer algo acima do Seu controle (Sl 10.18). Por sua insignificância diante da grandeza de Deus, a humanidade não é digna da lembrança ou bênçãos de Deus (Sl 8.1-4). Ela também não é digna de receber a confiança relativa ao tamanho de Deus (Sl 56.11); o ser humano é incapaz de esconder os seus pecados de Deus e a efemeridade de sua breve existência se deve à ira de Deus manifesta contra o pecado de Adão, cuja culpa é imputada sobre todos os homens, que são objetos das conseqüências da ofensa adâmica (Sl 90.7,8).

A pequenez antropológica se demonstra por ser o homem um mero mortal como os outros animais; por isso, qualquer pensamento que não tenha isso em consideração dá a impressão de que a vida terrena é eterna e deve ser entendido como tolice (Sl 49.12,20). O homem também é comparado à relva do campo que floresce, mas logo deixa de existir (Sl 37.2; 90.5; 103.14-16). Assim como toda a criação, a humanidade recebe a vida de Deus e por Ele também é retirada (Sl 104.29,30). Sendo assim, como resultado de sua própria pequena existência, o homem está em uma posição de adorador exclusivo de Deus e somente nEle encontrará significado e felicidade, temas do ponto a seguir.

2. A dependência e a busca humana por Deus

A dependência do homem diante de Deus se expressa tanto no que diz respeito à sua subsistência quanto para a sua segurança e razão para viver. Todas essas esferas da dependência humana são o que o fazem buscar a Deus e com isso, adorá-lO.

Deus não concede alimento apenas aos animais (Sl 147.9), mas também aos homens. Esta realidade é claramente percebida quando se mostra que Deus é o provedor do sustento humano, agindo por trás dos fenômenos naturais que proporcionam ao ser humano, seu alimento (Sl 104.13-15). Toda a carne depende de Deus para ter alimento. Nisso os salmistas mostram uma relação direta entre Deus e o homem, no que diz respeito àquilo de que este último precisa para sua sobrevivência (Sl 136.25; 145.15,16). YAHWEH é quem controla a comida necessária para a androsubsistência, concedendo ou não o alimento (Sl 105.16,40). Os que temem ao Senhor podem confiar na Sua provisão sem preocupações (Sl 33.18,19; 34.10; 37.19,25; 111.5; 127.3). De forma imensurável, o homem depende da graça de Deus para a sua subsistência.

Algumas das afirmações mais espetaculares declaradas no livro de Salmos são, sem dúvida, aquelas colocadas no Salmo 62. O autor diz: "Só ele é a minha rocha e a minha salvação ... Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa ... Só ele é a minha rocha e a minha salvação ... De Deus depende a minha salvação ..." (Sl 62.2, 5-7). Este Salmo mostra claramente que o único meio de se obter segurança genuína é através da confiança no Senhor. Aquele que espera em Deus para a sua proteção não precisa de nenhum outro refúgio (Sl 11.1). O cuidado de Deus para com aqueles que buscam refúgio nEle se dá devido à honra ao Seu próprio nome (Sl 31.1-3). O Senhor não manifesta a Sua proteção apenas a indivíduos, mas também ao Seu povo, guiando-os de maneira segura e livrando-os de seus inimigos (Sl 78.53). A idolatria era cometida quando se colocava a confiança em algo que não fosse o Senhor (Sl 31.6). É feliz aquele que se refugia em YAHWEH, pois Sua bondade garante livramentos (Sl 34.6-8).

No que tange ao significado do homem, sua razão para viver, os salmistas são unânimes em concordar que a única fonte suficiente para a satisfação e descanso da alma humana se encontra em Deus. Se fosse possível sintetizar tudo o que os salmistas falam sobre a completa satisfação da alma humana em Deus, poderia se usar a célebre frase de Agostinho: "Tu nos fizeste para Ti mesmo, e nosso coração não tem descanso enquanto não descansar em Ti".

Assim como a corça encontra repouso e vida em seu ambiente, assim o homem apenas em Deus encontra repouso e vida (Sl 42.1,2). Um árido deserto necessita e deseja água, o ser humano da mesma maneira acha a verdadeira satisfação para as suas necessidades e anseios em Deus (Sl 63.1). É bom para o homem desfrutar da presença de Deus (Sl 73.28), nem a existência humana usufruindo de tudo o que a vida pode oferecer supera a satisfação de ser objeto da bondade dEle (Sl 63.3). A direção de Deus na vida humana proporciona prazer incomparável com o prazer promovido por qualquer outro ser ou objeto (Sl 73.23-25). Real felicidade é encontrada na presença de Deus (Sl 89.15), que independe das circunstâncias externas (Sl 84.5). Diante disso, a conclusão de um dos salmistas só pode ser: "Tu és o meu SENHOR; outro bem não possuo, senão a ti somente" (Sl 16.2). A vida realizada é aquela que busca ao Senhor e encontra prazer em Sua presença.

Finalmente, é inevitável concluir a dependência que o homem tem de Deus. Em sua dependência dEle para o sustento, proteção e significado, o homem responde ao Senhor depositando toda a sua confiança nEle e buscando-O. "eu, porém, confio no Senhor ... Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente" (Sl 31.4; 63.1). Cumprindo, assim, sua missão de adorador.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O QUE É TEOLOGIA PRÁTICA?


A teologia prática é aquela que de modo crítico e construtivo discursa sobre a ação cristã no mundo em que a igreja se encontra. Fundamenta-se no próprio agir de Deus na história tal qual é apresentado nas Escrituras, entendido mediante o direcionamento dado pelo Espírito de Deus. E ela se perfaz como uma teologia comunitária, pois estimula a comunidade a refletir sobre sua própria práxis cotidiana.

Caracteriza-se por um discurso crítico, pelo fato de que nunca se considerará um ministério comunitário perfeito, desde que o crente se encontra num mundo decaído (Rm 3.9-12), onde a própria igreja se situa no processo de transformação à imagem do Criador (Ef 4.24) e sempre estará aquém da perfeição do agir divino em Cristo. Por isso, analisa-se de forma transparente e honesta as falhas e os acertos no serviço exercido pela comunidade cristã.

Ao mesmo tempo, é também, um discurso construtivo, porque não visa apenas apontar as falhas, mas edificar uma comunidade de amor e justiça que reflete o agir justo e amoroso de Deus.

Como ação cristã no mundo a teologia prática quer estar no mundo, mas não ser do mundo (Jo 17.11-18). Entende que a igreja possui o papel de ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16), produzindo transformação na sociedade em que está inserida, assim como o Mestre fez (Jo 17.20-26; 20.21-23). Por isso, a teologia prática é comunitária, pois não se acha em um indivíduo desenvolvendo especulações estéreis, e sim, na comunidade cristã, cuja reflexão visa sempre o ministério cristão na sociedade em que está inserido. Seu compromisso é com o serviço, conforme o modelo deixado por Cristo (Mc 10.45), motivando à relevância e à contextualidade.

As Escrituras mostram a ação de Deus na história, julgando os ímpios e salvando aqueles que confiam nEle (1 Sm 2.1-10). A plenitude da manifestação de Deus no mundo se deu por meio de Cristo, no qual reconciliou consigo os homens, transformando-os em nova criação (2 Co 5.18-21; Jo 1.12). Sendo assim, as Escrituras, por descreverem a missão divina, são o parâmetro da teologia prática e a fonte suficiente para que uma comunidade seja aperfeiçoada no exercício das boas obras (2 Tm 3.16, 17). A compreensão da vontade de Deus revelada nas Escrituras e o discernimento para aplicá-la (Cl 1.9, 10), provêm do direcionamento concedido pelo Espírito de Deus (1 Co 2.6-16; Gl 5.16, 18, 25).

O REINO DE DEUS NA TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

O reino de Deus é um conceito amplamente proclamado e desenvolvido no Novo Testamento. Os Evangelhos Sinópticos constituem a parte neotestamentária que mais se concentra neste tema. Mateus sintetiza a pregação de Cristo como o kerigma acerca das boas novas do Reino (Mt 4.23). Marcos, também, narra a pregação do evangelho da vinda do reino de Deus como parte integrante do ministério de Jesus, sendo o fundamento da exortação ao povo ao arrependimento e à fé nas boas novas da parte de Deus (Mc 1.14, 15).

O fato de Marcos indicar na proclamação de Jesus a relação entre o cumprimento do tempo e a aproximação do reino de Deus revela que a vinda do governo de YHWH sobre os homens é o cumprimento da esperança escatológica vétero-testamentária de tal acontecimento, dando continuidade à história da salvação (Mc 1.14, 15; cf. Mt 5.17-20) . Nos Salmos, Deus é reconhecido como o Rei Universal que mantém o Seu poder eternamente (Sl 103.19; 145.11, 13). Isaías, profeticamente, falou de um mensageiro que traria as boas novas da chegada do reinado efetivo de Deus, a fim de salvar o Seu povo (Is 40.9ss; 52.7ss).

Portanto, o reino de Deus pregado por Cristo é a mensagem do evento escatológico no qual Deus passou a restaurar a humanidade, mediante a Pessoa e Obra de Jesus (Mt 11.25-27), trazendo-a, novamente, para debaixo de Sua soberania (Mt 5.21, 48), de fato, não apenas de direito. Os homens e as mulheres, então, experimentam o governo de Deus em suas vidas, ao se arrependerem do viver independente do Criador e crerem na reconciliação com Ele por meio de Jesus (Mc 1.14, 15; cf. At 2.38-40; 1 Ts 1.9-10).

A presença do Reino na Pessoa de Cristo é declarada em dois incidentes. Num confronto de Jesus com os fariseus a respeito do exorcismo de demônios, em que o poder de Cristo sobre os espíritos imundos indicava a presença escatológica do Reino (Mt 12.28). E em outro confronto entre ambos, quando Jesus declara a natureza misteriosa do reino de Deus que já estava presente entre os homens e as mulheres (Lucas 17.20, 21).

Cabe, por fim, destacar neste trabalho que ainda que o reino já fora inaugurado com o ministério de Cristo, não fora cumprido de modo pleno, aguardando um momento futuro para isto. Pois, a luz da Nova Era que já começara a raiar, ainda espera seu ápice quando Cristo virá para julgar a humanidade (2 Tm 4.1), todos os seus inimigos serão colocados debaixo de Seu poder e os filhos do reino desfrutarão da vida eterna na Era vindoura (Mt 10.17-31; Rm 13.11-14; 1 Co 15.24-28; Ef 1.9, 10). A oração do crente é pela concretização final do Reino (Mt 6.10).

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

DEUS E O MALANDRO
Gênesis 25 – 35

Quem nuca ouviu a música "Homenagem ao Malandro" do Chico Buarque? Embora fosse uma crítica irreverente ao governo militar de sua época, certamente continha muita verdade a respeito de quem é malandro.

Gostaria de falar a respeito da vida de um malandro. Um malandro que tem sido meu companheiro de peregrinação na fé, ultimamente. Tenho olhado para ele e visto suas malandragens. E ao mesmo tempo, fico perplexo como Deus entrou na vida desse homem apesar de sua irreverência. Essa é uma daquelas histórias que deixa qualquer teólogo de cabelo em pé. Como Deus foi capaz de se relacionar com alguém metido em pecado? Por que Deus age com graça na vida do malandro, ao invés de agir com ira?

Para buscarmos entender tudo isso, é necessário que estudemos com cuidado as obras de Graça que Deus operou na vida do malandro Jacó. A grande verdade é que Deus é capaz de transformar malandros em pessoas reverentes. Transformar aproveitadores em pessoas que se reconciliam com seu próximo. E pode, é claro, fazer de idólatras, adoradores do único e verdadeiro Deus.

A história da vida deste homem começa em Gênesis 25 e vai até o final do livro. E é para lá que eu me dirijo juntamente com você.

Tudo começou quando um homem chamado Isaque conheceu Rebeca, e se casaram. A história contida em Gênesis nos informa de que Rebeca não poderia ter filhos, mas em resposta às orações de Isaque, Deus possibilitou a gravidez dela. Estando Rebeca grávida, seu marido percebeu que os dois bebês lutavam dentro da barriga da mãe. Preocupado com aquilo, ele perguntou a Deus. A resposta divina foi que havia duas nações dentro da barriga da mãe e o mais velho serviria o mais novo. Depois de nove meses da gravidez, nascem os lindos meninos. O primeiro a sair, chamou-se Esaú, o segundo, Jacó. Nesse momento começa a história do malandro Jacó, como bem sugere seu nome. "Agarrador de calcanhar", "trapaceiro" e "suplantador". Algo interessante nesse começo era a promessa de Deus de que Jacó, o mais novo, seria servido por Esaú. Algo muito incomum àquela época do Oriente Médio Antigo, onde o mais velho sempre possuía direitos superiores. Talvez aquilo fosse estranho a Isaque e Rebeca, mas nem sequer imaginavam o que esta palavra de Deus significaria na história de sua família. Deus estava prevendo Seu plano soberano sobre aquelas vidas, e isso incluiria as malandragens de Jacó com a ajuda de sua mãe, tão astuta quanto o filho.

Moisés narra a primeira malandragem de Jacó numa certa ocasião em que seu irmão voltava do campo cansado enquanto o outro preparava um cozido de lentilhas. Sentido o cheiro daquela comida e a contemplando, Esaú pede para que seu irmão lhe desse um pouco daquele cozido.
Em reposta ao pedido do irmão, o malandro faz uma negociação. Se Esaú lhe desse o direito de primogenitura, ele lhe daria o cozido de lentilha que havia pedido. Foi então, que o aproveitador, conseguiu tirar o direito de primogenitura de seu irmão cansado e burro. Percebeu a situação que lhe era favorável para tirar do outro algo que não possuía.

Tempos depois, quando Isaque estava bem perto de sua morte, resolveu chamar Esaú para abençoá-lo. O filho seria aquele que continuaria como o receptor das bênçãos que Deus havia prometido a Abraão. Tudo acontecia normalmente, mas havia uma promessa de Deus no passado quando os dois meninos ainda estavam na barriga de Rebeca que colocava a bênção de Esaú em risco.

Rebeca ouviu o pedido que Isaque havia feito a Esaú para lhe dar a bênção, e chamou seu filho querido Jacó. Juntos enganaram Isaque e Jacó recebeu a bênção que era de seu irmão Esaú. Agora o pai do povo de Deus já não seria mais Esaú, e sim Jacó, que malandramente roubou a bênção que pertencia a seu irmão. Deus cumpria seu propósito, do qual não fugia a malandragem de Jacó.

Esaú quando descobriu que seu irmão havia roubado a bênção que lhe pertencia, resolveu esperar seu pai morrer para, então, matá-lo. Rebeca, sabendo da intenção de seu filho mais velho, deu um jeito para enviar Jacó para longe dali, a fim de que não fosse morto.

Jacó sai da casa de seu pai rumo à de seu tio Labão. No meio do caminho, Deus vai ao seu encontro. Nesse encontro Deus promete a Jacó um povo grandioso, proteção e cuidado, e a graça de ser o intermediário das bênçãos de Deus às outras nações.
Olho para esse encontro e fico perplexo. Como Deus poderia se envolver com alguém tão metido no pecado como Jacó? Afinal, Isaías não diz que nossos pecados nos separam de Deus? Como Deus pode trazer mensagens de conforto e segurança para alguém que vive na malandragem?

Talvez as repostas pra essas minha indagações se encontrem nos capítulos que se seguem. Deus, graciosamente, se dispôs a se envolver na vida de Jacó. Acima do pecado de Jacó, estava a fidelidade de Deus que havia garantido a bênção dEle sobre Jacó, desde quando estava na barriga da mãe. Mas, além disso, Deus se envolve com Jacó, não permitindo que ele permanecesse daquele jeito. A graça de Deus foi tão grande para penetrar na vida podre de Jacó, e tão poderosa a ponto de lhe ensinar e mudar seu caráter.

O modo como a graça lidou com o pecado do malandro, está descrito nos capítulos 29-31. Como Deus fez isso? Usou outro malandro para corrigir Jacó, seu tio Labão.

Jacó sofreu nas mãos de seu tio. Quando se apaixonou por uma de suas primas, teve que trabalhar 7 anos para poder se casar com ela. Depois que se deitou na noite de núpcias com a prima, descobriu que não era a que ele gostava, e sim a mais velha. Seu tio, o enganou e lhe deu a prima que achava feia. Jacó teve que trabalhar mais sete anos para ter a moça que amava como sua esposa.

Depois, além de ser enganado pelo seu tio com respeito à sua esposa, foi enganado, também, enquanto trabalhava com ele. Quando lhe convinha, Labão mudava o contrato de trabalho. Foi assim que a graça de Deus ensinou a Jacó (Gn 31.38-42).
Deus com sua graça estava ensinando a Jacó o amargo que alguém causa quando é malandro na vida dos outros.

A graça de Deus agiu na vida de Jacó começou a dar sinais. Jacó, agora, confiava que Deus era a causa de seu enriquecimento, e não ele mesmo (Gn 31.7, 9, 42). Quando Deus ordenou a Jacó que voltasse para a terra onde seus pais viviam, ele o fez, mesmo que isso implicasse em encontrar com seu irmão Esaú. Foi aí, que Jacó aprendeu a arte da responsabilidade e humildade quando se reconciliou com seu irmão no capítulo 32 e 33.

Mais adiante, no capítulo 35, vemos Jacó com toda a sua família deixando todo os ídolos que possuíam, a fim de poder adorar a Deus com simplicidade de coração. Jacó entendeu que não se podia conviver com Deus e outros ídolos ao mesmo tempo. A adoração precisava ser dirigida somente a Ele.

Jacó continuou com malandragem, ainda mentia e não tratava seus filhos com igualdade. Mas com certeza já não era o mesmo Jacó antes de seu encontro com Deus em Betel. A graça de Deus penetrou na sujeira da sua malandragem, e, aos poucos, foi se transformando de malandro para alguém reverente, em aproveitador para alguém que assumia sua responsabilidade para com o próximo e de um idólatra para um adorador exclusivo de Deus.

Olho para nossas vidas e não vejo diferença nenhuma entre nós e Jacó. Todos vivíamos como bem nos parecia, segundo a nossa malandragem. Mas depois de nosso encontro com Deus e com Sua graça, passamos a experimentar uma mudança de vida.

Deus muitas vezes usa de Sua graça para se mostrar presente em nossas vidas e no ensina. Molda o nosso caráter por meio das adversidades e nos transforma de malandros irreverentes, para adoradores reverentes. Quero convidá-lo a observar a graça de Deus moldando sua vida em sua história e chamá-lo a permitir que esta graça gere mudanças como fez na vida do malandro Jacó. Sugiro algumas atitudes.

Reconheça a Bondade de Deus em sua vida.
Assuma suas responsabilidades para com o seu próximo.
Deixe os ídolos de seu coração e Volte-se para Deus.

Mesmo cometendo algumas malandragens, podemos experimentar os sinais de graça de Deus em nossas vidas e passar por verdadeira transformação. Deixe a graça do Senhor ir de encontro com sua malandragem e mudar gradualmente sua vida. Mesmo que isso inclua sofrer a malandragem dos outros.

No amor do Senhor Jesus,
Tiago Abdalla

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