domingo, 27 de abril de 2008

A Humilde Confiança no Poder de Jesus

A HUMILDE CONFIANÇA NO PODER DE JESUS
Marcos 7.24-30

INTRODUÇÃO

Quando criança, ouvia no rádio do carro algumas pregações, em que um certo pastor ensinava que como filhos do rei, devíamos exigir o melhor para nossa vida. Não poderíamos concordar com algo que não nos agradasse, temos o direito de ter tudo o que queremos.

Por outro lado, às vezes, via na televisão, um missionário, mandando que disséssemos ao diabo para sair de nossa vida quando qualquer coisa ruim acontecesse conosco. Deveríamos falar: “Diabo! Em o nome de Jesus eu não aceito isso que você traz para a minha vida! Saia agora!”.

Essas teologias refletem perspectivas de Deus distorcidas e esquizofrênicas. Uma trata Deus como se fosse nosso servo que deve satisfazer todos os nossos desejos, a outra como se o Diabo tivesse um poder quase igual ao de Deus e nós estivéssemos a mercê do poder dele em todo o momento, precisando repreendê-lo e lutar contra ele, já que Deus não consegue dar conta sozinho.

Hoje, quero propor um retorno àquilo que temos estudado em Marcos, especialmente para a história de uma mulher que nos ensina sobre como nos relacionarmos com Cristo e com Deus. Ela quebra essas duas idéias acima, porque ela se achega diante de Jesus, com um pedido, de forma humilde, reconhecendo o Senhorio dEle. E, também, porque não se preocupa em discutir com o Diabo, mas clama àquEle que está acima de qualquer poder. Vamos ler e refletir sobre Marcos 7.24-30.

A EXPRESSÃO DE CONFIANÇA E DEPENDÊNCIA DE CRISTO – vv. 24-26

Antes de chegarmos neste texto, encontramos no contexto um debate de Jesus com a liderança religiosa, acerca da pureza cerimonial da tradição judaica. O tradicionalismo seguido pelos fariseus os atrapalhava e impedia de obedecerem completamente à Lei. Essa foi a crítica de Jesus a eles. Após esse entrave, Jesus contou uma parábola à multidão, e a explicou aos seus discípulos. O princípio que destacou foi a neutralidade dos alimentos para a nossa espiritualidade. O que contamina o homem espiritualmente não são os alimentos, mas sim, o seu coração que é naturalmente inclinado para o mal.

Como conseqüência do ensino de Jesus sobre a indiferença da pureza cerimonial, agora, Ele quebra mais um paradigma judaico, indo para uma região de gentios, próximo à cidade de Tiro. É de se notar, também, que a continuidade do ministério público de Jesus se tornava mais tensa, especialmente pela oposição daqueles que lideravam os judeus. É comum depois de alguns entraves, Jesus se retirar dos centros urbanos, a fim de preservar sua pessoa e ministério, como faz aqui (cf. Mc 2.13; 3.7).

Enquanto no meio judeu, os corações demonstram sua dureza para crer em Jesus, entre os gentios, acha-se um solo fértil de corações quebrantados e confiantes na Sua graça.

O propósito de Jesus era ter um tempo a sós com seus discípulos, não objetivava qualquer sucesso no exterior. Daqui em diante, veremos uma dedicação maior de Jesus especificamente para com o grupo dos doze, instruindo e lhes explicando acerca de Sua missão. Por isso, o verso 24 nos diz que Ele não queria que ninguém soubesse de sua presença ali.

Todavia, ele não conseguiu manter-se no anonimato, uma mulher, cuja filhinha sofria de possessão demoníaca, ficou sabendo que Jesus estava por ali. A expressão “espírito imundo” é um característico idiomatismo judaico, que mais à frente será identificado como demônio. Ouvindo as boas novas, a mulher correu na direção e se prostrou aos seus pés em atitude de reverência e dependência.

Marcos lembra que a mulher era grega, ou seja, não judia, pagã e, por isso, considerada impura pelos judeus. Aqui há um link muito forte com o contexto que precede. Se não há alimento puro ou impuro, também não existem pessoas puras e impuras. Todas são iguais perante Deus e completamente carentes de sua graça.

Um rabino que viveu cerca de 150 d.C. ensinou que se deveria agradecer a Deus todos os dias: “Louvado seja Deus porque não me criou pagão! Louvado seja Deus porque não me criou mulher! Louvado seja Deus porque não me criou ignorante!”. Essa mãe se encaixava totalmente dentro da oração. Um judeu considerava a casa de um pagão, impura e as refeições, também, de modo que quando participava das refeições com pagãos, trazia comida de casa. Deveria se evitar uma conversa com um pagão, pois a saliva deste podia atingir o judeu. A descrição no verso 25 coloca a mulher numa posição nada favorável diante da religiosidade judaica e, certamente, é um contraste marcante com os líderes religiosos que aprecem no começo do capítulo 7.

Ao contrário dos fariseus e escribas que se aproximam de Jesus para julgá-lo, esta mulher se humilha diante dEle e clama, insistentemente (ênfase do verbo grego no imperfeito), para que libertasse sua criança do demônio que a possuía.
O exemplo de dependência e reverência desta mulher, sem dúvida, nos ensina como nos aproximar de nosso Salvador. Nosso relacionamento com Cristo nunca deve ser uma questão secundária em nossa vida, mas sim, uma relação com aquEle de quem dependemos e precisamos, constantemente, em nosso viver. Sem Cristo nada somos.

É diante dessa realidade que o autor de Hebreus podia afirmar que é Ele quem sustenta todas as coisas com a Sua palavra poderosa (Hb 1.3). Ele é o Criador de tudo e sem Ele, nada do que foi feito existiria (Jo 1.3). É graças a Ele que podemos, hoje, ter vida eterna com Deus (Jo 3.16). Aliás, vida eterna nada mais é que relacionamento com o Pai e com o Filho (17.3), comunhão profunda com o Deus Triúno.

Como você se achega diante de Jesus? Como o servo que deve satisfazer seus desejos pessoais, dar o namorado que você quer, conceder um cargo melhor na empresa que você deseja, melhorar sua condição financeira? Será que Jesus é visto assim por nós? O que ocorre quando as coisas não acontecem do nosso jeito e no nosso tempo? Ficamos murmurando e reclamando? Vemos nossa relação com Cristo com uma atitude de utilitarismo? Se as coisas estão mal, então, buscamos a Ele e se não responde aquilo que queremos, da forma que desejamos, então, viramos as costas para Ele e deixamos o relacionamento com Cristo de lado. Infelizmente essa é a espiritualidade de muitos crentes.

A PRIORIDADE MINISTERIAL DEFINIDA POR CRISTO – v. 27

Jesus, então, explica por meio de uma parábola que sua prioridade ministerial era com o povo judeu e não com os gentios (Mt 15.24ss; cf. 10.5-7). O termo filho fora usado no Antigo Testamento para indicar o povo de Israel (Êx 4.22-23; Dt 14.1-2; Jr 3.19, 22; 31.9) e Jesus usa a mesma idéia aqui. Já os pagãos eram chamados pelos judeus de cães. De forma carinhosa, Jesus compara a mulher pagã com os kinarioi que não eram cães de rua, mas sim, os cachorrinhos domésticos que eram cuidados por uma família. O princípio no texto não é de superioridade, mas sim, de prioridade, assim como na casa, primeiro as pessoas eram alimentadas, para, depois, os animais receberem o seu alimento. Da mesma forma, primeiro, os judeus deveriam se saciar com as bênçãos de Deus, então, os gentios receberiam a sua parte.

Jesus, aqui, demonstra fidelidade à missão que Seu Pai lhe dera. Não quer permitir que a rejeição por parte dos judeus, o leve à busca do glamour em meios aos gentios. A ordem de prioridade é bem evidente nos evangelhos, em que a rejeição dos judeus legitimou a missão aos gentios (cf. Mt 10.5-7 com 28.18-20).

Assim, hoje, podemos louvar a Deus, porque “por causa da transgressão deles, veio salvação para os gentios” (Rm 11.11). Mas sabemos, também, que um dia virá quando “todo o Israel será salvo” (Rm 11.26), e a graça de Deus será evidente (Rm 11.30-32).

O PODER COMPASSIVO DE CRISTO DIANTE DA SÚPLICA HUMILDE E INSISTENTE – vv. 28-30

A mulher, de forma humilde, reconhece Jesus como “Senhor”. A única vez que o termo ocorre no evangelho de Marcos, quando alguém se dirige a Jesus, e implica no reconhecimento da autoridade de Jesus e sua posição de superioridade para fazer o que lhe apraz. Todavia, ela faz uso da mesma ilustração, para insistir no seu pedido a Jesus. Era comum, depois de comerem o alimento com as mãos, no oriente antigo, as pessoas quebrarem pedaços de pão, para enxugar os dedos melecados e grudentos. Assim, caiam farelos na mesa que eram jogados no chão e, então, os cachorrinhos comiam, mas só depois e que eram alimentados. Aqui a mulher encontra uma analogia para suplicar as migalhas da bênção de Deus que caíam da mesa dos judeus.

O que me surpreende é que ela não corrige Jesus, não vai embora depois de ser comparada com um cachorrinho, pelo contrário, é nesse momento que a fé dela se evidencia (Mt 15.28), reconhecendo o senhorio de Jesus e clamando, de modo humilde e insistente, pela libertação de sua filha àquEle que trazia o reino de Deus entre os homens.

Vendo a sabedoria de suas palavras que demonstravam a sua grande fé na graça de Cristo, Jesus declara a libertação de sua filha com a autoridade que somente Ele possuía para garantir isso. Perceba que Jesus não precisou expulsar o demônio verbalmente, mas, à distância, garantiu a libertação dela.

Cheia de fé, a mulher corre para encontrar com sua filha, não titubeia, e vai para casa. Ao chegar lá, encontra sua filha na cama, liberta do demônio e experimenta o maravilhoso sabor da migalha do poder gracioso de Cristo.
Que exemplo de fé! Que demonstração de humildade! Ela, de fato, creu que aquele pedido feito conforme a vontade de Deus, seria respondido por Jesus. Pergunto-me quantas vezes demonstro esse exemplo de fé e confiança no poder de Jesus. Nós temos um banquete de bênçãos espirituais concedidas a nós e, muitas vezes, pouco caso fazemos delas (Ef 1.3-14).

Quantas vezes clamamos a Cristo pra que vivamos uma vida santa e irrepreensível diante de Deus? (Ef 1.4). Quantos de nós bebemos do perdão de pecados garantido por Cristo a nós, no lugar de escondermos nossas falhas? (Ef 1.7). Temos pedido a Deus por sabedoria e entendimento para compreender a Sua vontade? (Ef 1.8-9). Será que nos ajoelhamos diante de Deus clamando que reavive em nossos corações a esperança da herança que aguardamos? (Ef 1.13-14).

Talvez, você tem experimentado pouquíssimas respostas de Deus porque quando ora, o faz de maneira errada para mergulhar em prazeres egoístas (Tg 4.1-3). Quando nosso foco está na santidade de Deus, no reino dEle e em Sua vontade (Mt 6.9-10), então, experimentaremos o agir poderoso de Deus em nossas vidas.
O DEUS QUE REDIME A CRIAÇÃO
Marcos 7.31-37

INTRODUÇÃO

Lembro-me quando, depois de recarregar meu celular em tomadas 220 volts, no Paraguai, acabei por queimá-lo e perdê-lo. O celular já não ligava de jeito nenhum. Como fora fabricado por uma certa empresa de telefonia celular, a minha reação imediata foi levá-lo a uma loja representante desta empresa na área de consertos, pois, assim como ela criara aquele modelo de celular, seria responsável por restaurar o telefone ao seu estado original, isto é, funcionando. A minha decepção ocorreu, tempos depois, quando liguei para a empresa que fabricara meu aparelho, a fim de saber se haviam conseguido consertá-lo e disseram para mim que não compensava o conserto, pois isto sairia muito caro. A saída era comprar um novo.

O texto de hoje apresenta uma situação parecida. O Criador da humanidade se dispõe a consertar o estrago que a queda trouxe para a humanidade. A Bíblia descreve vários estragos gerados pela queda, um deles afeta a natureza como um todo, inclusive a própria natureza do corpo humano. Deus, então, por meio de Cristo, se dispõe a se identificar com os homens e restaurá-los ao estado original. A diferença básica é que Ele, de fato, restaura e não descarta aquilo que foi corrompido. É isso o que encontramos em Marcos 7.31-37.

A MANIFESTAÇÃO DA SALVAÇÃO DIVINA AO SURDO-MUDO – vv. 31-35

Após abençoar a mulher siro-fenícia com as migalhas da salvação de Deus, libertando sua filhinha da escravidão do diabo, Jesus se retira daquele lugar e vai para uma outra região, também, de gentios, a província de Decápolis. É preciso observar, então, que em ambas as situações, tanto nos versos 24-30 quanto em 31-37, Jesus ministra a pagãos, pessoas que não eram judias.
Ao chegar em Decápolis, ali encontra pessoas carentes da graça e salvação de Deus, que lhe trazem um homem com dificuldades físicas graves, era surdo e não conseguia falar direito. As pessoas suplicam a Jesus para que impusesse suas mãos sobre ele e o curasse.

Jesus, então, toma o homem da multidão e o traz, à parte para junto de si. Talvez, num local onde as pessoas não presenciariam a cura. Curiosamente, Jesus demonstra essa atitude em outros momentos, nos quais cura ou liberta alguém fora de “Israel” (cf. 8.22, 23; 9.24-25), evidenciando seu desejo de não ganhar popularidade fora nem “lançar o pão aos cachorrinhos”, antes do tempo.

Depois de trazer o homem para si, em um gesto gráfico, Jesus coloca seus dedos nos ouvidos do doente e, ao cuspir, toca em sua língua. Exatamente os membros que tinham sérios problemas. É possível que Jesus agira assim, para auxiliar o homem a crer nEle e em Seu poder na restauração de sua saúde. Na última história contada por Marcos, ficou evidente que Jesus não precisava de esforço ou magia para curar alguém ou libertar (cf. 7.29-30).

Jesus volta seus olhos ao céu, indicando Seu agir em conformidade e juntamente com o Pai, uma cena semelhante ocorreu na multiplicação dos pães e peixes (Mc 6.41). Seu suspiro deve indicar sua tristeza pela situação de miséria que aquele homem experimentava, diferente do suspiro com os fariseus, mais à frente, que significa indignação frente à dureza de coração para crer nEle (cf. Mc 8.12). Com uma ordem, Jesus liberta o homem de seu mal, ele passa a ouvir e falar normalmente.

É impossível ler este texto sem ver nele um paralelo com a profecia de Isaías 35.4-6, em que o próprio Deus agiria na história para salvar e faria os surdos ouvirem e os mudos cantarem. Um realce ainda maior na relação dos textos é que a palavra grega usada para a dificuldade de voz que Marcos 7.32 confere ao homem trazido até Jesus, não ocorre em nenhuma outra parte do Novo Testamento, apenas na versão grega do Antigo Testamento em Isaías 35.6. Marcos nos mostra, neste incidente, Deus agindo e resgatando a Sua Criação do mal a que está sujeita. Em Cristo o mundo receberá sua total renovação futura (Rm 8.18-25) e já experimentou em parte quando o Salvador se tornou carne e habitou entre nós (Mt 8.16-17).

Os princípios deste texto, certamente, são relevantes para a nossa vida e nos levam a refletir. A atitude de dependência, aqui, novamente, não pode ser ignorada. A multidão se dirige àquele que é capaz de salvar o homem de seu estado triste de saúde. Homem nenhum seria capaz de reverter tal situação, apenas o Deus encarnado. Nos perguntamos quantas vezes nos dirigimos a Deus e dependemos dEle em situações difíceis, no lugar de correr na direção de objetos e pessoas que, de nenhum modo, poderão nos ajudar.

Será que percebemos que assim como Jesus operou de forma salvadora na vida desse homem, assim, também, Ele operou em nossas vidas? Entendemos a grandeza da salvação que recebemos? Conseguimos olhar para o estado de miséria em que estávamos e como Cristo veio ao nosso encontro e nos salvou? Reconhecemos isso? Valorizamos isso? Damos toda a glória a Ele por tão grande salvação?

Por fim, a esperança de renovação do mundo, para a qual esse texto aponta deve gerar esperança em nossas vidas. O texto de Isaías descreve uma situação futura, em que a terra será restaurada, o lugar deserto florescerá, já não haverá mais doença e a santidade de Deus será desfrutada por aqueles que são Seu povo. “E ali haverá uma grande estrada, um caminho que será chamado Caminho de Santidade. Os impuros não passarão por ele; servirá apenas aos que são do Caminho”.

Essas promessas enchem você de esperança? Você se alegra em saber que a santidade de Deus será claramente manifesta em todo o mundo? Deseja este momento futuro em que tudo aquilo que o pecado arruinou, Deus restaurará em Cristo?

A DECLARAÇÃO DA SALVAÇÃO DIVINA NA BOCA DA MULTIDÃO – vv. 36-37

Ao ver o que ocorrera, a multidão ficou maravilhada. Marcos usa uma palavra para ressaltar uma admiração extrema, grandiosa, além do limite. Seria o mesmo quando falamos: “Nossa! Eu quase desmaiei ao ver aquilo!”, ainda que a surpresa expressa no texto tem uma conotação positiva, de júbilo, pelo que estava acontecendo por meio de Cristo.

Jesus ordena ao povo para que não divulgassem a cura do homem, mas, ainda que os demônios e a natureza lhe obedecessem, as pessoas demonstravam enorme dificuldade em se submeter à ordem do Deus-Homem. “A conduta da multidão é um bom exemplo do modo pelo qual os homens tratam Jesus, prestando-lhe toda a homenagem, mas não a obediência”.

Nas palavras do povo, conforme descritas por Marcos, percebe-se um eco de Gênesis 1.31, onde se diz que tudo o que Deus fez era muito bom. Aqui, “Ele faz tudo muito bem”. Nos lábios do povo, Deus aparece ainda que não descrito diretamente e a frase “faz até o surdo ouvir e o mudo falar”, novamente, traz à mente Is 35.4-6. Não apenas o surdo-mudo experimenta a salvação de Deus, mas ela aparece, também, nos lábios dos que anunciam tal salvação divina em Jesus.

Primeiramente, precisamos avaliar se nossa atitude não é muito diferente do povo, que exaltava Jesus com os lábios, mas se negava a entronizá-lo em seus corações. Quantas vezes, podemos cantar belas melodias em louvor a Deus, mas não permitimos que Ele seja o Senhor de nossas vidas! Quantas vezes dizemos: “O Senhor está no controle”, mas o nosso coração fica inquieto, querendo definir o futuro e mudar aquela situação que nos incomoda! Em quantos momentos damos graças a Deus pelo alimento, mas, depois reclamamos daquela comida que se encontra na mesa! Quantas vezes nos admiramos com a Verdade infalível de Deus em Sua Palavra, mas mentimos com nossos lábios e nossas vidas! Falamos bem de Jesus e professamos uma fé nEle, mas nos negamos a levar Sua Palavra até as últimas conseqüências em nossas vidas.

Marcos 7.37 serve de paradigma daquilo que Deus espera encontrar em nossos lábios, hoje. Se naquela época, Jesus exigia silêncio da multidão, hoje, requer de nós a proclamação do Deus que agiu e age na história salvando pessoas do reino das trevas e as trazendo para serem parte da família de Deus (Mt 28.16-20). As pessoas ouvem de nós as boas novas do Deus que criou tudo muito bem, e salva, também, de maneira perfeita, o homem de seu estado de pecado e alienação dEle?
“Quão formosos são os pés dos que anunciam boas novas! Que proclamam a salvação! Que dizem: 'O seu Deus reina!”.


segunda-feira, 14 de abril de 2008

O textus receptus é o texto original?


Tem-se divulgado alguns folhetos, ultimamente, indicando a NVI como texto do diabo, simplesmente, por seguir o texto crítico, utilizando uma abordagem eclética textual e não uma abordagem unilateral erasmiana. Tais pessoas, fazem questão de colocar seus títulos na frente dos nomes, dando a entender que são pessoas cultas e profundos conhecedores de teologia. Como se isso intimidasse qualquer participante da comissão de tradução da NVI, na qual muitos membros são Ph.D.

O texto dessa gente mais confunde que esclarece o leitor da Bíblia, pois a maioria dos leitores evangélicos-protestantes não entendem nada de crítica textual e não compreenderão a discussão que está em foco.

Quero apenas fazer uma observação, a priori. Num de seus artigos "Expondo os erros do Prof. Carlos Oswaldo Pinto", dizem que o Texto Crítico (usado pela NVI e qualquer teólogo que se presta a fazer exegese utilizará tal texto) fora editado por incrédulos. Agora, esse pessoal que se mostra tão contrário aos romanistas, esquece que Erasmo de Rotterdam, editor do Textus Receptus, não era protestante e se negou a participar da Reforma que Lutero propunha, o que implicaria, na visão deles, num editor incrédulo. Editor do texto grego que eles tanto defendem.

De mais a mais, haja tempo pra escrever tanta picuinha tola em tantas páginas.

Por isso, continuo usando a NVI em minhas exposições como uma tradução fidedigna dos manuscritos gregos.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Fé em Situações de Perplexidade


Querido leitor, nem sempre passamos por situações simples, nas quais o propósito de Deus é nítido e claro como cristal. Ficamos, por vezes, perplexos e nos sentimos desolados com o que acontece. Momentos em que nem sempre aquilo que desejávamos, esperávamos, gostaríamos, ocorre, mas mesmo nisso, podemos lembrar que há um Deus sábio e soberano guiando os eventos da história, a fim de que Seu nome seja glorificado em tudo, e a imagem do Seu Filho cresça em nós.

Queremos aprender com Jó, "o Senhor o deu, o Senhor o levou, louvado seja o nome do Senhor" e cantar junto com Habacuque:

Mesmo não florescendo a figueira,
e não havendo uvas nas videiras,
mesmo falhando a safra de azeitonas,
não havendo produção de alimento nas lavouras...
...ainda assim eu exultarei no Senhor
e me alegrarei no Deus da minha salvação!

Nunca poderemos nos esquecer das palavras de Paulo aos romanos, lembrando que mesmo nas situações mais críticas da vida, Deus continua nos amando. "Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor".

Só então, quando lembramos que os pensamentos de Deus são mais altos que os nossos pensamentos, e os seus caminhos mais altos que os nossos, podemos declarar,

"Bom é o Senhor para com os que esperam nEle,
para com aqueles que O buscam,
é bom esperar tranqüilo pela salvação do Senhor!"

"Pois dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas
A Ele seja a glória para sempre!
Amém!"

terça-feira, 1 de abril de 2008

O que Roy B. Zuck tem a dizer sobre dispensacionalismo e aliancismo?

O texto que segue abaixo é extraído do livro texto de hermenêutica em cursos teológicos "A interpretação bíblica", publicado pela editora Vida Nova, do Dr. Roy
B. Zuck, reconhecido acadêmico, dispensacionalista, professor emérito de exposição bíblica do Dallas Theological Seminary, e editor, juntamente com Walvoord, do famoso comentário bíblico "Bible Knowledge Commentary".

A teologia das alianças consiste num sistema teológico centrado na chamada aliança da graça, que foi um acordo entre Deus e os pecadores eleitos pelo qual ele lhes provê graça para salvação. A maioria dos teólogos das alianças também é amilenarista, embora alguns sejam pré-milenaristas. As três doutrinas principais da teologia da aliança são: 1) A "igreja" é formada pelo povo redimido de Deus em todas as eras, não somente pelos da era atual, que se estende do dia de Pentecoste até o Arrebatamento. 2) As alianças abraâmica, davídica e nova encontram cumprimento na era moderna (Os teólogos do pré-milenarismo sustentam que, apesar da possibilidade de haver cumprimento de alguns aspectos dessas três alianças nesta era moderna, haverá também um cumprimento futuro. Os amilenaristas, à semelhança dos teólogos das alianças, negam qualquer cumprimento futuro dessas alianças). 3) O programa divino tem finalidade soteriológica, ou seja, proporcionar salvação para as pessoas.


Em linhas gerais, a teologia dispensacionalista gira em torno de dois conceitos: 1) a igreja não equivale a Israel e 2) o plano divino tem um propósito doxológico, ou seja, glorificar o próprio Deus (Ef 1.6, 12, 14). Com respeito ao primeiro deles, considera-se a distinção entre a igreja e Israel, pois aquela possui um caráter distinto. Paulo escreveu a respeito de uma dispensação na qual Deus eleva tanto os judeus crentes quanto os gentios a uma mesma condição de igualdade como membros do corpo de Cristo. Esse fato era desconhecido nos tempos do Antigo Testamento (Ef 3.5, 6). No Antigo Testamento, desde a época de Moisés, Deus tratava essencialmente com Israel, mas hoje a igreja é composta por judeus e gentios crentes, que formam um único corpo de Cristo, a igreja. Em 1 Coríntios 12.13, lemos do batismo dos crentes no corpo de Cristo, e 10.32 fala da diferença entre Israel e a igreja (RADMACHER In: GUNDRY e KANTZER. Perspectives on evangelical theology. p. 171). A dispensação ou administração vindoura é o futuro reino milenar (Ef 1.10). Romanos 10.1 também faz alusão ao caráter exclusivo de Israel.

Considera-se a diferença entre a igreja e Israel não só pelo caráter bem definido da primeira, mas também por sua época própria. A era da igreja começou após a ressurreição (Ef 1.20-22) e a ascensão de Cristo (Ef 4.7-12). Como todos os crentes nesta era são batizados no corpo de Cristo (1 Co 12.13), o princípio da era da igreja deve ser associado ao início do ministério de batismo do Espírito Santo. Os cristãos gentios na casa de Cornélio, "... assim como nós, receberam o Espírito Santo", afirmou Pedro (At 10.47), e "... caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós no princípio" (At 11.15). A alusão que Pedro fez ao fato de os judeus já terem recebido o Espírito Santo e de que o Espírito Santo desceu sobre eles "como também sobre nós no princípio" refere-se ao que aconteceu no dia de Pentecoste, conforme relata Atos 2. Está claro que é desse acontecimento que ele está falando, pois o Senhor dissera pouco antes, enquanto ascendia aos céus, que eles haveriam de receber o Espírito Santo (At 1.8).

A igreja, que nasceu no dia de Pentecoste, possui um programa próprio, que distingue a era moderna da dispensação inaugurada com o fornecimento de lei a Israel. Essa nação recebeu promessas especiais, enquanto outras foram feitas à igreja, que é o corpo de Cristo. É claro que em cada dispensação as pessoas são salvas pela fé, não por obras (ênfase minha).

Além disso, Deus tratava com a humanidade de forma diferente antes da instituição da lei mosaica. E, antes da queda do homem, em Gênesis 3, havia outra dispensação em vigor. Assim, as Escrituras distiguem pelo menos cinco dispensações.

Os dispensacionalistas partem de um estudo hermenêutico coerente, considerando a interpretação normal, gramatical um fundamento essencial à sua hermenêutica. Com essa base, fazem a distinção entre Israel e igreja quanto à dispensação. Como expressou RadMacher: "a interpretação literal [...] é a 'linha-mestra' do dispensacionalismo [...]. Sem dúvida, o mais significativo desses [princípios] é a manuntenção da diferenciação entre Israel e a igreja" (RADMACHER In: GUNDRY e KANTZER, p. 171). Ryrie também comentou essa questão: "Se a interpretação direta e normal consiste no único princípio hermenêutico válido e se for aplicada coerentemente, a pessoa se tornará dispensacionalista" (RYRIE, Dispensacionalism today, p. 21). Aceitar os termos Israel e Igreja em sentido normal, literal, equivale a conservar sua distinção. Israel sempre significa o Israel étnico, nunca se confundindo com o termo igreja, nem as Escrituras jamais empregam igreja em substituição ou como sinônimo de Israel.

Como já disse, o segundo conceito da teologia dispensacionalista é o programa doxológico de Deus. Embora os teólogos das alianças não neguem que o plano divino visa a glorificá-lo (mediante a aliança da graça atualmente em vigor), parece que eles enfatizam mais o propósito soteriológico do Senhor. Por exemplo, Hoekema escreveu que o objetivo do reino de Deus "é redimir o povo de Deus do pecado" (HOEKEMA In: CLOUSE. The meaning of the millennium. p. 181). Os dispensacionalistas também salientam que o plano divino de salvação pela fé unifica todas as dispensações, ao mesmo tempo em que eleva a graça de Deus à condição de pincípio fundamental que unifica todas as dispensações (ênfase minha). Em outras palavras, o programa de Deus em cada dispensação visa a glorificá-lo. Se por um lado, os teólogos das alianças e os dispensacionalistas ressaltam a glória de Deus (doxologia) e a salvação (soteriologia), os dispensacionalistas pregam que o grande propósito de Deus em cada dispensação é glorificar a si mesmo. Um dos meios principais de fazer isso é mediante a salvação pela fé (em todas as eras), mas o alvo final é sua glória.

ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1994.

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